sábado, 29 de agosto de 2009

Palavrantiga - álbum “Palavrantiga Vol. 1″



Com influências de U2, Los Hermanos, The Killers, Chico Buarque e afins, essa trupe mezzo capixaba, mezzo mineira, já passou dos 2 mil EPs vendidos em 2008. Qualidade de sobra nas letras (obviamente espirituais e distante de clichês) e no instrumental instigante. Receberão no próximo dia 02 o prêmio de melhor banda cristã mineira de 2008 em evento promovido pela MTV-MG.

Fonte: blogosferacrista.com/

Download EP Vol. 01

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Entrevista - Steve Turner - Cristianismo Criativo?

Imagine um mundo repleto de artistas. De seres humanos especialmente criativos e devotados à música, literatura, teatro, pintura. Imagine um mundo de concertos e óperas, em teatros ou praças públicas. Idealize quadros e esculturas; estilistas, coreógrafos, cenógrafos. Abra um livro imaginário e passeie pelo conteúdo. Adapte para as telas do cinema, da TV e pare.

Pense e imagine tudo isso sendo elaborado por cristãos. Que impacto teria na sociedade? A igreja ignoraria Shakespeare por escrever Romeu e Julieta, Hamlet ou Macbeth? Ou se orgulharia do dramaturgo da mesma forma que enche a boca para dizer ao mundo que C.S.Lewis, o escritor de Crônicas de Nárnia, era cristão?

Steve Turner é autor do livro Cristianismo Criativo? (W4 Editora) e defende a idéia de que o artista não precisa sacralizar sua arte para ser aceito pela comunidade cristã quando se converte ao Evangelho. Para ele, a arte cristã deve ser estendida e propagada para além dos templos. E, ao lançar este desafio aos artistas – o de continuarem produzindo arte secular, leva em consideração apenas a importância do testemunho e da ética cristã. Ele quer ver os cristãos revolucionando a arte contemporânea, embora não espere que esta mesma arte, por si só, converta pessoas, mas espera que ela seja boa o suficiente para despertar no apreciador da obra de arte o interesse pela vida e pelo testemunho de seu autor. “Esta é uma das chances de ser luz nas trevas. Se não estamos presentes nas artes, negamos às pessoas a oportunidade de se depararem com a nossa perspectiva”, diz ele.

Esse escritor inglês, residente em Londres e membro da igreja All Souls, em Langham Place, é também jornalista, poeta, crítico musical e consultor de empresas na América e na Europa. É colaborador das revistas Rolling Stone, Q, Christianity Today, e dos jornais The Mail on Sunday e The Times. Dentre seus vários livros estão Hungry for Heaven, Conversation with Eric Clapton, U2: Hattle and Hum, Van Morrison: Too Late to Stop Now e The Gospel According to the Beatles, entre outros. Também escreveu alguns livros infantis, sendo o primeiro deles The Day I Feel Down the Toiled, que já vendeu 120 mil cópias. Por telefone, a reportagem de Enfoque conseguiu conversar com Turner e, de suas idéias um tanto incomuns, elaborou a entrevista que segue abaixo.

ENFOQUE – Em seu livro Cristianismo Criativo?, você critica a música gospel pela delimitação e pela falta de criatividade nos assuntos tratados. De certa forma, você sugere que a música também caminhe para uma visão de mundo cristã, isto é, com letras que protestem contra o aborto, peçam o cancelamento da dívida dos países do Terceiro Mundo, dignifiquem o trabalho de um limpador de rua, etc. Além dessas idéias, que caminhos um músico cristão deve seguir para desenvolver a criatividade com sabedoria?


STEVE TURNER – O primeiro artista citado na Bíblia é Bezalel, filho de Uri (Ex 35.31). Ele diz que o espírito de Deus o presenteou com habilidade, sabedoria e conhecimento. Da mesma forma, nós precisamos de todas essas coisas. A habilidade é básica e esta você precisa desenvolver. O conhecimento você adquire através do estudo. E quando falo de conhecimento, também me refiro a um nível mais profundo de discernimento. A sabedoria, diz a Bíblia, começa com respeito e temor a Deus. Então, como artista, é necessário ter todas essas características, pois o ofício em si não é suficiente.


ENFOQUE – Como um músico cristão pode ser relevante na igreja e na sociedade? O que você acha de o músico cristão tocar fora da igreja?


STEVE TURNER – Se um músico fosse se converter, sua primeira reação provavelmente seria dizer: “Agora eu quero utilizar a bênção que recebi para o serviço de Deus”. Ótimo, mas no entendimento instantâneo das pessoas, ele provavelmente começará a cantar músicas evangélicas, especialmente em igrejas. Agora, se um encanador se torna cristão, nós não temos a tendência de pensar que ele só fará reparos no encanamento de igrejas. Então, eu quero encorajar os artistas que se convertem que considerem o fato de permanecerem onde estão, mas com uma atitude renovada em relação ao seu trabalho. Se todos os artistas que se tornarem cristãos se envolverem somente com o evangelismo, de modo geral, eles estarão negando sua cultura e os benefícios de sua habilidade e sua capacidade criativa.


ENFOQUE – Você diz que cresceu “dentro de um evangelicalismo que não preparava as pessoas para um papel dinâmico na cultura secular”. Como você considera a formação do cristão contemporâneo em relação a esta preparação?

STEVE TURNER – A coisa boa a respeito da maneira como fui criado é que nos foi passado um grande conhecimento das Sagradas Escrituras e isso realmente nos marcou, pois percebemos que nossa relação com Deus era a coisa mais importante. Havia uma série de condenações, como o cinema, por exemplo, entre outras coisas. No entanto, sou até capaz de aceitar que aquilo era uma tentativa, embora discutível, de aplicar os valores bíblicos à cultura. Hoje em dia, o problema em ser mais liberal com relação a essas proibições é que isso pode tornar as pessoas meras consumidoras da cultura secular. Não há uma tentativa de filtrar a cultura através de um entendimento bíblico. Aliás, o conhecimento bíblico de hoje é muito superficial. Uma vez alguém me disse: “O cristianismo norte-americano tem 5 quilômetros de extensão e meio centímetro de profundidade”.

ENFOQUE – Você se opõe à idéia de separação entre a vida secular e a vida espiritual. Quais são os seus argumentos?


STEVE TURNER – Era a filosofia grega, especialmente Platão, que separava o sagrado do secular. Ele achava que o corpo humano e suas necessidades nos impediam de obter uma maior aproximação de Deus. Os cristãos adotaram essa postura e agem como se a coisa mais importante da vida fosse orar, ler a Bíblia e louvar. Agem como se comer, amar, brincar e trabalhar fossem nada mais que intrusos em nossa vida. A visão da Bíblia é que Deus nos criou para amar e orar, para comer e louvar, para brincar e evangelizar. Ele nos vê como pessoas completas e gosta de nos ver integrados nessas atividades. O resultado desse pensamento culposo é que os cristãos têm uma ideologia de oração e gerenciamento de igrejas, mas não de trabalho e lazer.

ENFOQUE – Inegavelmente, a arte pode ser vista como manifestação de rebeldia e descontentamento em relação às regras ou a um sistema por completo. Através dela é possível brincar com o perigo sem risco direto. As palavras podem não representar o óbvio e, assim, “muito belo” pode significar “muito feio”, enfim. A arte concede ao artista a oportunidade de expressar sentimentos e pensamentos, sem medo de represálias.


ENFOQUE - Em relação ao estigma de que "todo artista é rebelde”, qual é a sua contraposição?

STEVE TURNER – Penso que os artistas são mais idealistas do que propriamente rebeldes. Eles costumam idealizar uma sociedade perfeita porque têm imaginação para isso. E, também, pelo fato de que normalmente trabalham sozinhos, não tendo, assim, a mesma mentalidade das pessoas que trabalham em uma empresa. Eles não têm que obedecer às mesmas regras e códigos de conduta. Alguns artistas desenvolvem uma espécie de “rebeldia aceitável” – aquele tipo de rebeldia que não chega a incomodar a sociedade, mas que ao final é recompensada pela mesma.

ENFOQUE – A arte dramática está entre as maiores oposições do cristianismo. Jovens que sonham com as carreiras de atores e atrizes seculares, não raro, são aconselhados por líderes a desistirem de seus objetivos. O principal argumento é de que essas práticas, desde as primeiras oficinas, exigem do artista representações físicas impróprias ao cristão. Alguns desistem dos sonhos e dificilmente superam a frustração. Muitos se auto-reprimem, outros abandonam a fé. Como conhecedor das influências do mundo artístico, qual a sua posição frente à inclusão do cristão nas artes dramáticas?


STEVE TURNER – Atores encarnam personagens criados pela mente do autor e isso é realmente complicado, porque não é comum encontrar um escritor que crie personagens que façam o intérprete cristão se sentir cem por cento à vontade. Quando falamos sobre o que um autor deve ou não fazer no palco, acho que a coisa mais importante é a mensagem do filme ou peça teatral. A mensagem de Macbeth, por exemplo, é mostrar o que acontece quando você permite que o demônio domine suas ações. Agora, para representar bem esse tipo de papel, você tem que encarnar o personagem. Acho que os cristãos deveriam analisar melhor a questão da idolatria e não se aterem à tentativa de ser como Deus.

ENFOQUE – E quanto à questão do beijo, ou fazer um papel sensual? Você acha que é inadmissível perante a fé cristã? É possível atuar em uma peça escrita por um dramaturgo não cristão? Se sua resposta for não, você acha que os atores e atrizes cristãos deveriam desistir de seus sonhos?


STEVE TURNER – Nós não devemos pensar em “temas cristãos”. Deveríamos pensar em verdade e excelência. Quando pensamos em temas cristãos, nos vêm à mente histórias bíblicas e histórias de pecado, arrependimento e conversão. Hanz Rookmaaker, um estudioso da história da arte, costumava dizer que deveríamos questionar toda e qualquer obra artística com as seguintes perguntas: “Ela é boa tecnicamente?”, “Tem integridade?”, “É verdadeira?”. Algumas músicas dos Rolling Stones ou da Madonna podem passar nesses três critérios, enquanto alguns hinos podem falhar em um ou dois. Se eu leio um poema, não me pergunto se ele é cristão, mas se foi bem escrito, se o autor atingiu seu objetivo ou se tem coerência com a verdade da maneira que eu a conheço.

As pessoas devem lembrar que os artistas normalmente não são chamados a serem evangélicos; logo, não podem ser julgados de acordo com esses padrões. Uma pintura ou uma dança não é um sermão disfarçado. De que maneira um médico cristão poderia ser julgado? Pelo número de pessoas que ele evangelizou? É claro que não! Julgamos um médico pela sua capacidade de diagnóstico, bem como por sua competência em tratar doenças e também pela maneira de lidar com os pacientes.

ENFOQUE – Cristianismo e moda sempre estiveram separados por um precipício denominado “vaidade”. Esta é outra área da arte em que a presença do cristão é praticamente nula. Os comentários de que o homossexualismo e a prostituição povoam os bastidores, sobretudo em início de carreira, sustentam o preconceito. Você vê alguma objeção em um cristão desfilar nas passarelas do mundo fashion?


STEVE TURNER – Eu sei que há cristãos trabalhando no mundo fashion aqui em Londres, em Nova York, em Los Angeles... Acho que eles deveriam ler o que a Bíblia diz sobre as roupas. Em primeiro lugar, precisamos de roupas para cobrir a nossa nudez (Gn 3.21). Em segundo, há um valor de beleza e estilo naquilo que Deus criou. Veja como Deus cobriu os animais e as flores. Em terceiro lugar, não devemos ser provocativos, nem fazer com que os outros tenham pensamentos libidinosos. Em quarto, não devemos sugerir que a beleza exterior é mais importante que a beleza interior (Pe 3.3; 4.1; Tm 2.9-10). Em quinto, não devemos ostentar roupas caras enquanto outros não têm o que vestir. E, finalmente, não devemos usar roupas para elevar o nosso ego nem para nos sentirmos superiores em relação aos outros. Nunca estudei moda especificamente, mas esses pensamentos vêm à tona à medida que respondo a essas perguntas.


A Bíblia apenas nos dá orientação, por isso é muito emocionante poder colocar esses ensinamentos em prática. Há inúmeros exemplos de grupos que pensam que o vestuário cristão significa usar roupas que não reflitam nenhum traço de personalidade, fazendo-as lúgubres e sem forma, mas eu não acho que essa seja a aplicação correta desses princípios.Sobre a questão da prostituição e do homossexualismo, não concordo que isso necessariamente faça parte do mundo fashion. Você não tem que ter nenhum vício nem estar propenso a algum tipo de pecado para ser capaz de elaborar roupas. Talvez a pergunta seja: se há tantas pessoas no mundo da moda, isso o torna um meio perigoso? Depende do quão suscetível às influências um cristão possa ser. Você precisa ser realista no que diz respeito à sua fraqueza. As pessoas costumavam dizer que os teatros eram pontos de encontro de prostitutas, razão pela qual os puritanos tentaram fechá-los.

Ninguém diria isso hoje em dia. Se houvesse mais cristãos no mundo, talvez fossem as prostitutas que estivessem mais preocupadas com o próprio espaço nesse universo. O vestuário é algo fundamental, por isso o seu processo de criação e fabricação deve ser algo bom, não havendo razão alguma pela qual algum pecado em particular deva integrar o mundo fashion.

ENFOQUE – Quais são as maiores demonstrações de criatividade na Bíblia?


STEVE TUNER – A Bíblia em si. A mistura de história, oração, música, poesia, biografia, leis, cartas e visões é que criam esse “livro” tão especial.


ENFOQUE – Como os cristãos podem se mostrar eficientes nas artes?


STEVE TURNER – Da mesma maneira que não-cristãos tornam-se bons em alguma arte. Aprendendo com o passado, aprendendo com o seu ofício, absorvendo tudo o que é possível, sendo aberto a críticas, conhecendo-se a si próprio e desenvolvendo uma visão mais abrangente de mundo. Há um erro comum que consiste no fato de as pessoas imaginarem que os cristãos buscam evitar o trabalho árduo, limitando-se a orar. Há muita verdade no ditado que diz “Deus ajuda quem cedo madruga”. Paulo estudou as Sagradas Escrituras até que Deus o acolheu como preciosa matéria-prima e fez dele uma pessoa fundamental na história cristã.


ENFOQUE – Quando a arte é prejudicial à vida cristã?


STEVE TURNER – A arte pode ser perigosa, assim como a comédia. Ela ultrapassa o nosso sistema de defesa. Nós entramos em contato com uma idéia que não pode ser refutada. Contudo, se algo é considerado como obra de arte, nós a imaginamos como sendo moralmente neutra, mesmo que ela tenha, de forma discreta, elementos que vão de encontro a nossos princípios morais.


ENFOQUE – Qual a melhor forma de utilizar a arte na igreja?


STEVE TURNER – As artes já são utilizadas na igreja, quando entoamos uma canção, assistimos a um vídeo ou construímos uma nova igreja. Nessas três citações utilizamos a mão-de-obra desses artistas. Por isso, cristãos que são artistas podem sempre melhorar a qualidade de tudo, desde capas de livros, músicas ou revistas cristãs. Desde que haja cristãos trabalhando no meio artístico, acho salutar que a igreja crie possibilidades de discussão. A Igreja ora pelos artistas. Ela é capaz de os entender, encorajar e ouvir, pois os artistas estão em mais freqüente harmonia com suas respectivas culturas. No entanto, não vejo o trabalho dos artistas na cultura como algo que deva ser organizado pela igreja. Quando realizo o meu trabalho, sou como o encanador ou o médico cristão. Busco entender meu próprio trabalho da maneira cristã de fazê-lo e eu acho que estou indo bem.

ENFOQUE – Atualmente têm surgido, em especial em países de primeiro mundo como Estados Unidos, Austrália e Europa, as chamadas Igrejas Criativas, citando Lakewood, LifeChurch e Hillsong. Algumas delas investem muitos recursos no desenvolvimento de arte, seja ela radiodifusiva, virtual, musical, teatral, cinematográfica ou editorial. Como você vê esta “nova geração de igrejas”?

STEVE TURNER – É perigoso tornar a igreja em outra experiência criativa, imaginando que podemos competir com Hollywood e que devemos fazer tudo o que pudermos para chamar a atenção das pessoas. Embora eu ache que devemos sempre melhorar a comunicação, tenho consciência de que não podemos jamais deixar de confiar na poderosa Palavra de Deus. Eu lembro de um musical a que assisti há muitos anos que dizia: “Tudo é efeito, mas sem efetividade”. Nós devemos evitar isso.


Publicado originalmente na Revista Enfoque Gospel

Cristianismo Criativo? - Uma visão sobre o cristianismo e as artes



















Imagine a arte que é arriscada, complexa e sutil.
Imagine a música, os filmes, os livros e as pinturas da maior qualidade!
Imagine a arte que permeia a sociedade, desafiando o pensamento convencional e os padrões morais em sua essência!
Imagine tudo isso criado por cristãos!

Cristianismo Criativo? Será possível?

A resposta para essa pergunta você encontrará através da visão ousada de Steve Turner, alguém que tem trabalhado entre artistas - muitos cristãos e não cristãos - há três décadas. Para ele, os cristãos devem confrontar a sociedade e a igreja valendo-se do poderoso impacto que a arte pode causar. Turner acredita que a arte pode registrar fielmente a vida de pessoas comuns e, do mesmo modo, expressar a transcendência de Deus e, por isso os cristãos devem se envolver em todos os níveis do mundo das artes e em todos os meios de comunicação.

Contudo, a arte e os artistas nem sempre foram considerados com grande estima por cristãos conservadores. Entretanto, ao longo deste livro estimulante, Turner desenvolve uma tese instigante em que se Jesus é Senhor de toda a vida e criação, então, a arte não é algo ilícito aos cristãos. Pelo contrário, pode - e deve - ser uma forma de expressão da fé em palavras, sons e pontos de vista dispostos de modo criativo, gracioso e verdadeiro.

Este convite entusiasmado é uma leitura obrigatória para todo cristão que tem sido atraído para as artes ou por elas influenciado.

ISBN: 85-87086-26-X
ISBN13: 978-85-87086-26-6
Páginas: 176
Formato: 14 x 21 cm
Tradução: Valéria Lamim Delgado Fernandes
Categoria: Artes, espiritualidade
Lançamento: 2007
Impresso em papel reciclado
Duas opções de capa - azul e laranja
Preço sugerido: R$ 34,90

Liturgia dos infernos


Curiosamente, a palavra liturgia representava originalmente no ambiente cristão, tudo aquilo que deveria ser evitado. Mas nem mesmo a reforma protestante conseguiu abolir as formas litúrgicas. Na verdade, apenas remendamos aquilo que nos incomodava.

Em pleno século XXI, ainda sofremos em demasia por conta das práticas litúrgicas. Não digo apenas as formas e aparências dos cultos, mas a maneira de lidar com as pessoas em todas as estruturas e reuniões.

Ficar parado por duas horas ouvindo alguém falar, exige do locutor que, no mínimo, desenvolva um assunto interessante e de forma interessante. Tenho séria dificuldade em me concentrar em algo CHATO. Na maioria das vezes concordo com os assuntos a serem tratados. Porém suportar calado longos períodos “da mesma coisa de sempre”, mata qualquer um. Como seremos capazes de inspirar outros a participarem de reuniões em que nós mesmos não acreditamos?

Pra ser sincero, não acho que os compromissos que possuo na vida me sufocam. A realidade é que ainda estou morrendo de tédio. Suportaria cem vezes mais do mesmo, caso acreditasse. Não é o número de reuniões que me cansa, mas seu conteúdo. Compromisso com formas litúrgicas desinteressantes são o pior tipo de fardo que um homem pode ser obrigado a carregar. E falando de fardo, o texto bíblico que me vem à mente é:

“Amarram fardos pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos. Tudo o que eles fazem é para serem vistos pelos outros. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços! E olhem os pingentes grandes das suas capas! Eles preferem os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas. Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de “mestre”. Porém vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois todos vocês são membros de uma mesma família e têm somente um Mestre.” (Mateus 23:4-8)

Já imaginou uma comunidade onde o vínculo principal é o amor?

Quem sabe com um pouco deste tempero especial, seja possível que haja entre todos uma compreensão clara da importância de estarem juntos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Jovem E O Sábio

Certa vez um jovem foi a um homem sábio, pedir conselhos. O homem sábio disse que só queria saber uma coisa.

Ele propôs uma situação imaginária. Ele disse - “Imagine que você nunca seria pego e ninguém seria machucado. Ninguém perderia nada. Se estas circunstâncias fossem garantidas, você mentiria por $10,000 dólares?”

O jovem pensou um pouco e respondeu. “Sim, por $10,000 e ninguém saberia e ninguém seria machucado. Eu mentiria.” O sábio balançou a cabeça e disse. “Tenho outra pergunta. Você mentiria por dez centavos?”

Furioso, o jovem indagou “Que tipo de pessoa você acha que eu sou?”

O sábio respondeu. “Eu já sei que tipo de pessoa você é. Estou apenas tentando estabelecer seu preço.”


Do jornal - Does God Exist? (Será que Deus Exist?) July/Aug 96, pp. 22-3 http://www.doesgodexist.org

O Poder De Um Pequeno Defeito


“Viajando num trem, de repente paramos. O problema foi que um parafuso pequeno havia quebrado e fomos obrigados a seguir lentamente com um pistão só ao em vez de dois funcionando. Somente um pequeno parafuso estava quebrado. Se tivesse sido corrigido o trem teria corrido sua trilha de ferro, mas a ausência daquela peça insignificante atrapalhou tudo. A analogia é perfeita; um homem, em todos os outros aspectos apto para ser útil pode, por causa de um pequeno defeito, ser impedido ou até tornado inútil para o ministério.

C. H. Spurgeon, “Lições Para Meus Estudantes”.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Lista de e-Books para Download

Cristianismo Pagão - Frank A. Viola
Reconsiderando o Odre - Frank A. Viola
Quem é Tua Cobertura - Frank A. Viola
Uma Nova Visão da Igreja Como Família - Frank A. Viola
Você quer, realmente, começar uma igreja em casa? - Frank A. Viola

Maravilhosa Graça - Philip Yancey
Decepcionado com Deus - Philip Yancey
Alma Sobrevivente
- Philip Yancey
O Jesus Que Eu Nunca Conheci
- Philip Yancey
Deus Sabe Que Sofremos - Philip Yancey
À Imagem e Semelhança De Deus - Philip Yancey
A Dádiva Da Dor - Philip Yancey
Feito De Um Modo Especial E Admirável - Philip Yancey
Desventuras Da Vida Cristã - Philip Yancey

Cristianismo puro e simples - C.S. Lewis
A Teologia moderna e a crítica da Bíblia - C.S. Lewis

As Crônicas De Nárnia - Volume Único - C.S. Lewis

O Hobbit - J.R.R. Tolkien
O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel - J.R.R. Tolkien
O Senhor dos Anéis - As Duas Torres - J.R.R. Tolkien
O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei - J.R.R. Tolkien

Ortodoxia - G.K. Chesterton
O Homem Que Era Quinta-Feira - G.K. Chesterton
A Ética Do País Das Fadas - G.K. Chesterton
Pequena História Da Inglaterra - G.K. Chesterton
Chesterton, Biografia - G.K. Chesterton

O Reino e a Igreja - Stephen Kaung
O Reino de Deus - Stephen Kaung
Meditações Sobre o Reino - Stephen Kaung
Eu Edificarei a Minha Igreja - Stephen Kaung
A Cruz - Stephen Kaung
Pegadas - Stephen Kaung

Sem Barganhas com Deus
- Caio Fábio
Batalha Espiritual
- Caio Fábio
Perdão: Encarnação da Graça - Caio Fábio
Nephilim - Caio Fábio

Sinais de Uma Igreja Viva - John Stott
Crer é Também Pensar - John Stott
Ouça o Espírito, ouça o mundo - John Stott

O Reino De Deus Está Em Vos - Leon Tolstoy
Violencia Das Leis - Leon Tolstoy

Rios de Águas Vivas - Ruth Paxson
Chamados para a Santidade - Ruth Paxson

Cristo, a Soma de Todas as Coisas Espirituais - Watchman Nee
A Salvação da Alma - Watchman Nee
A Ortodoxia Da Igreja - Watchman Nee

É proibido - O que a bíblia permite e a igreja proíbe - Ricardo Gondim

Em busca de Deus - Teologia da alegria
- John Piper

O Espírito das Disciplinas - Dallas Willard

Crime E Castigo - Dostoievski

Tratado Da Verdadeira Devoção - Escrito por um católico

A Ordem de Deus - Bruce Asntey

Os Caçadores De Deus - Tommy Tenney
Os Descobridores De Deus - Tommy Tenney
Caçando Deus Servindo o Homem - Tommy Tenney
Fontes Secretas De Poder - Tommy Tenney

Bom Dia Espírito Santo - Benny Hinn
Bem Vindo Espírito Santo - Benny Hinn
Tocou-me - Benny Hinn
Senhor, Preciso De Um Milagre - Benny Hinn

A Ilusão Carismática, As Estranhas Doutrinas De Benny Hinn - Um Poderoso Xamã Disfarçado De Pastor - Autor Desconhecido

Beijando A Face De Deus
- Sam Hinn

A Unção Profética - John Bevere
Vitória No Deserto - John Bevere
A Isca De Satanás - John Bevere

A Verdade Acerca do Natal - Revista O Vencedor
A Vontade de Deus Para a Mulher Cristã - Revista O Vencedor

Não Deixe a Congregação - J. Preston Eby

Divórcio e Recasamento - Shawn Abigail

A Que Devemos Ser Leais - William McDonald

Há Um Combate a Ser Combatido! - J.C. MetCalfe

A Identidade do Testemunho da Igreja - Gino Iafrancesco V

Fora do Arraial - Hamilton Smith

As 95 Teses de Lutero - Fonte: Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

A História Do Avivamento Azusa - Frank Bartleman

Deus Está Presente, O Diabo Está No Meio - Adilson Schultz

Comunalismo - Kenneth Rexrot

Respostas de um diácono da CCB a um pastor evangélico.


Tornar-se cristão: o Paradoxo Absoluto e a existência sob juízo e graça em Søren Kierkegaard - Jonas Roos

Direito De Nascer - André Luís Da Silva Marinho

Filosofia da Ciência, introdução ao jogo e suas regras - Rubem Alves

Análise Da Inteligência De Cristo - O Mestre Dos Metres - Augusto Jorge Curi

Jesus, o maior psicólogo que já existiu - Mark W Baker

O Conceito de Ironia (Constantemente Referido a Sócrates) - Soren Kierkegaard

Sábado Eterno - Miersma

Imitação de Cristo - Obra comumente atribuída ao padre Tomás de Kempis

Adestramento cristão

Crente é um bicho estranho. Você grita “AMÉM?” e ele responde gritando o mesmo. Se perguntar pela segunda vez, ele responderá mais alto. Se no meio do louvor você gritar “pule na presença do Senhorrrrrrrr”, então eles pulam. Se você dançar de modo estranho, verá correspondência imediata nas pessoas.

Sua linguagem é facilmente influenciável por jargões. Basta pegar qualquer expressão bíblica cujo significado seja obscuro para a maioria, e pronto! Também colam as expressões inventadas que possuem aparência de espiritual, como por exemplo “ato profético”. Difícil de crer que nem existe esta expressão na Bíblia né?

Facilmente também estereotipamos outras coisas que fazem do crente um ser quase alienígena: os lugares que frequenta, o conteúdo de suas conversas e a aversão às coisas “do mundo”.

Pena quem os crentes não são condicionados a obedecer a todo tipo de “comando”. Parece que o adestramento a que foram submetidos possui limitações. Nem todos aceitam sugestionamentos que os levem a renunciar a seus interesses; ou dividirem suas posses com os necessitados; ou mesmo disponibilizar tempo para aqueles que estão abandonados em asilos, orfanatos e nas ruas.

Ah… antes que eu me esqueça, quero deixar claro que amo os crentes. E exatamente por ser um deles é que me incomodo tanto com estas coisas incompreensíveis que aceitamos passivamente em nossa conduta.

Qual das religiões do mundo confere a seus seguidores maior felicidade?

Enquanto dura, a religião da auto-adoração é a melhor. Tenho um velho conhecido já com seus 80 anos de idade, que vive uma vida de inquebrantável egoísmo e auto-adoração e é, mais ou menos, lamento dizer, um dos homens mais felizes que conheço. Do ponto de vista moral, é muito difícil. Eu não estou abordando o assunto segundo esse ponto de vista. Como vocês talvez saibam, não fui sempre cristão. Não me tornei religioso em busca da felicidade. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do Porto me daria isso. Se você quiser uma religião que te faça feliz, eu não recomendo o cristianismo. Tenho certeza que deve haver algum produto americano no mercado que lhe será de maior utilidade, mas não tenho como lhe ajudar nisso.


Para quem não o conhece, Clive Staples Lewis, ou simplesmente C.S. Lewis, produziu uma vasta obra literária e é considerado por muitos o maior pensador cristão do século XX - pela sobriedade e lucidez das respostas a seguir dá pra imaginar a razão disto.

Jesus e o “foda-se”


Por
Ariovaldo Jr 23 de julho de 2009 Comente

Eu sei que não devo ficar ansioso por causa de nada e blábláblá. Sei também que os cuidados deste mundo não podem sufocar a minha fé. Mas será que Jesus teve que passar pelo mesmo sofrimento desnecessário que muitas vezes passamos? Este não é um rascunho de idéias sobre fé, mas sobre motivações.

Não acredito que a vida seja tão difícil quanto alguns afirmam. Na verdade tudo pode ser simples e até divertido às vezes. O problema geralmente está na abordagem que preferimos utilizar para definir o que devemos ou não priorizar. Por exemplo, sinto que embora meus valores continuem intactos, ao priorizar atividades moralmente corretas dentro da vida eclesiástica (do tipo “todo mundo faz assim”), acabo por sabotar a mim mesmo. Não é que não acredito no trabalho em si. O problema é um pouco diferente. Na ânsia de atender às cobranças efetuadas através de métodos de gestão empresarial, acabamos por dar um tiro no pé de tanta preocupação em cumprir prazos, preencher planilhas, organizar agenda, fazer lista de tarefas, responder e-mails, participar de reuniões e principalmente prestar contas formalmente. E não tem jeito. Ou você se enquadra, ou dança.

Aí fico pensando na atitude de Jesus ao criticar todo o sistema. Parece que não preocupou-se tanto com a carreira rabínica e com a eficácia de “transformar” as coisas de dentro pra fora. Ele simplesmente apertou o botão do “foda-se”, disse o que precisava ser dito e fez o que precisava ser feito. Virou as costas pra “unidade”, mesmo tendo afirmado que, embora as práticas tornaram-se nulas, o ensino farisaico ainda estava correto.

Imagine um homem que tem grandes inimigos em potencial, capazes de lhe causar muitas dores. Para prevenir-se contra todo sofrimento, julgou ser prudente traze-los para perto de si, em seu círculo de relacionamento. Através de uma amizade sincera, evitaria com que as ações destas pessoas pudessem se tornar destrutivas a ponto de atingí-lo. Teoricamente a intenção está absolutamente correta. Mas não seria esta atitude mais uma maneira intencional de exercer controle sobre as situações?

Ainda tento entender como é possível conviver com esta dualidade de possuírmos um espírito livre e ao mesmo tempo sermos escravos uns dos outros. Às vezes penso que a expressão “escravos uns dos outros” na verdade seja uma metáfora para fugirmos de toda forma de controle e ao mesmo tempo nos submetermos a todos os que não tentem nos controlar. O difícil é discernir a verdadeira sinceridade.

Enquanto as coisas não se esclarecem, vou criar uma listinha de 10 coisas importantes a se fazer para sobreviver:

  1. Concentre-se em Deus. Ele é mais importante que as pessoas.
  2. Preocupe-se com as pessoas. Elas são mais importantes que as instituições.
  3. Preocupe-se com si mesmo. Se não estiver bem, não vai prestar pra nada.
  4. Insista em amar as pessoas verdadeiramente. Isto é um exercício mais difícil que musculação.
  5. Converse com as pessoas que não esperam sua atenção. Principalmente os invisíveis (tipo mendigos).
  6. Divida tudo. Sem excessões. Dê 50 reais pro vigia do carro. Chame alguém na rua para lanchar.
  7. Desista de ter resposta para todas as perguntas. Entenda a importância de dizer “não sei”.
  8. Beba devagar. Sinta sua vida medíocre em cada gole.
  9. Seja grato.
  10. Aprenda a andar com o botão do “foda-se” apertado. Às vezes funciona bem.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A “igreja” aceita tudo, menos morrer e servir...

22 Agosto 2009

O ideal do Evangelho se faz acompanhar de vida, mensagem e finalidades segundo o Evangelho, e nunca segundo a aflição da “igreja” de não perder espaço e poder...

Na religião o que importa são os fins...
Os meios são relativos...
E qual é o fim?
Levar Jesus às pessoas?
Certamente não, mas sim levar as pessoas para a “igreja”...

Se dissessem à “igreja” que o mundo inteiro creu em Jesus, mas que ninguém quer mais saber de “igreja”, ainda assim a “igreja” não ficaria feliz, posto sua preocupação de fato não seja com Jesus, com o Evangelho e com o povo, mas apenas com ela mesma...

O fim/finalidade da "igreja" é manter-se existente, não viva...

Por isto a “igreja” aceita tudo, menos morrer e servir...

Na realidade tudo tem apenas a ver com estratégia e espaço, ainda que haja pessoas bem intencionadas no processo...

Para que Jesus tenha algo a dizer à “igreja”, ela antes precisa levantar-se e dizer:
“Mestre! Decido dar metade dos meus bens aos pobres; e se nalguma coisa defraudei alguém, restituo quatro vezes mais!”...

Então Jesus dirá à “igreja”:
“Hoje entrou salvação nesta casa!”

Antes disso Jesus nada tem a dizer àquilo que se auto-intitula Igreja sendo apenas “igreja”...

Se a “igreja” quer salvação precisa crer no Evangelho...

Do contrário, já se perdeu com o mundo...

Caio

FONTE: blogdocaminho.com.br/

O que é conversão.

Carta de uma prisão em Birmingham


por Martin Luther King, Jr.

16 de abril de 1963

Meus caros amigos clérigos,

Durante meu confinamento aqui na prisão municipal de Birmingham, deparei-me com sua declaração recente chamando minhas atividades atuais de “insensatas e inoportunas”. Raramente paro para responder a críticas do meu trabalho e ideias. Se tentasse responder a todas as críticas que passam pela minha mesa, minhas secretárias mal teriam tempo para outra coisa que não para essas correspondências no decorrer do dia, e eu não teria tempo algum para o trabalho construtivo. Mas, como sinto que vocês são homens de genuína boa vontade e que suas críticas são expostas com sinceridade, quero tentar responder a sua declaração em termos que espero que sejam pacientes e razoáveis.

Acho que devo mencionar por que estou aqui em Birmingham, já que vocês foram influenciados pela visão que se opõe aos “forasteiros invasores”. Tenho a honra de servir como presidente da Conferência Sulista de Liderança Cristã (Southern Christian Leadership Conference), uma organização que opera em todos os estados sulistas, com sede em Atlanta, Geórgia. Temos cerca de oitenta organizações filiadas por todo o Sul, e uma delas é o Movimento Cristão pelos Direitos Humanos do Alabama (Alabama Christian Movement for Human Rights). Frequentemente, compartilhamos pessoal, recursos educacionais e financeiros com nossos afiliados. Muitos meses atrás, a afiliada aqui em Birmingham pediu-nos para ficar de sobreaviso para tomarmos parte em um programa de ação direta e pacífica, se isso fosse considerado necessário. Nós prontamente concordamos, e, quando o momento chegou, honramos nossa promessa. Assim, eu, junto a vários membros do meu pessoal, estou aqui porque fui convidado. Estou aqui porque tenho vínculos organizacionais aqui.

No entanto, mais fundamentalmente, estou em Birmingham porque a injustiça está aqui. Assim como os profetas do século VIII A.C. abandonaram suas vilas e levaram seu “assim disse o Senhor” muito além das fronteiras de suas cidades natais, e assim como o Apóstolo Paulo abandonou sua vila de Tarso e levou o evangelho de Jesus Cristo às mais remotas partes do mundo greco-romano, também eu sou compelido a levar o evangelho da liberdade para além de minha própria cidade natal. Como Paulo, devo constantemente responder ao chamado macedônio por ajuda.

Além disso, estou ciente do inter-relacionamento entre todas as comunidades e Estados. Não posso ficar ociosamente parado em Atlanta e não estar preocupado com o que acontece em Birmingham. A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares. Estamos presos em uma rede inescapável de mutualidade, atados em um único laço do destino. Algo que aja sobre alguém diretamente age sobre todos indiretamente. Não podemos nunca mais nos permitir viver com a ideia estreita, provinciana, do “forasteiro agitador”. Qualquer pessoa que viva dentro dos Estados Unidos não pode jamais ser considerada um forasteiro em qualquer lugar dentro de suas fronteiras.

Vocês deploram as manifestações que estão ocorrendo em Birmingham. Mas sua declaração, sinto dizer, deixa de expressar preocupação semelhante com as condições que provocaram as manifestações. Tenho certeza de que nenhum de vocês gostaria de descansar contente com o tipo raso de análise social que trata meramente dos efeitos e não ataca as causas subjacentes. É lamentável que as manifestações estejam ocorrendo em Birmingham, mas é ainda mais lamentável que a estrutura de poder dos brancos da cidade tenha deixado a comunidade negra sem alternativa.

Em qualquer campanha pacífica, há quatro passos básicos: coleta dos fatos para determinar se existem injustiças; negociação; auto-purificação; e ação direta. Efetuamos todos esses passos em Birmingham. Não pode haver nenhum ganho em enunciar o fato de que a injustiça racial engole essa comunidade. Birmingham é provavelmente a cidade mais completamente segregada dos Estados Unidos. Sua feia história de brutalidade é amplamente conhecida. Os negros experimentaram um tratamento grosseiramente injusto nos tribunais. Houve mais bombardeios não solucionados de casas e igrejas negras em Birmingham do que em qualquer outra cidade no país. Esses são os fatos duros e brutais do caso. Com base nessas condições, os líderes negros tentaram negociar com as autoridades da cidade. Mas os últimos recusaram-se consistentemente a tomar parte em negociações de boa fé.

Então, no último mês de setembro, surgiu a oportunidade de falar com os líderes da comunidade econômica de Birmingham. No decorrer das negociações, certas promessas foram feitas pelos comerciantes – por exemplo, de remover os sinais raciais humilhantes das lojas. Com base nessas promessas, o reverendo Fred Shuttlesworth e os líderes do Movimento Cristão pelos Direitos Humanos de Alabama acordaram uma interrupção das manifestações. Com o passar de semanas e meses, percebemos que éramos as vítimas de uma promessa quebrada. Alguns sinais, removidos por pouco tempo, retornaram; outros permaneceram. Como em muitas outras experiências anteriores, nossas esperanças tinham sido destruídas, e a sombra de uma decepção profunda caiu sobre nós. Não tínhamos alternativa a não ser nos prepararmos para a ação direta, por meio da qual exibiríamos nossos próprios corpos como um meio de apresentar nossa causa à consciência das comunidades local e nacional. Cientes das dificuldades envolvidas, decidimos empreender um processo de auto-purificação. Iniciamos uma série de oficinas sobre o pacifismo, e repetidamente nos perguntávamos: “Vocês são capazes aceitar golpes sem retaliar?” “Vocês são capazes de resistir à provação da cadeia?” Decidimos marcar nosso programa de ação direta no período de Páscoa, percebendo que, exceto pelo Natal, é o principal período de compras do ano. Sabendo que um programa vigoroso de retração econômica seria o efeito colateral da ação direta, sentimos que esse seria o melhor momento para aplicar uma pressão sobre os comerciantes em prol da mudança necessária.

Então, demo-nos conta de que a eleição para prefeito de Birmingham ocorreria em março, e rapidamente decidimos postergar a ação para depois do dia de eleição. Quando descobrimos que o Comissário de Segurança Pública, Eugene “Touro” Connor, havia reunido votos suficientes para ir ao segundo turno, decidimos mais uma vez postergar a ação para depois do dia do segundo turno, para que as manifestações não pudessem ser usadas para obscurecer os temas. Como muitos outros, esperávamos ver a derrota do Sr. Connor, e com esse fim aguentamos adiamento após adiamento. Tendo ajudado nessa necessidade da comunidade, sentimos que nosso programa de ação direta não poderia mais ser atrasado.

Vocês podem muito bem perguntar: “Por que ação direta? Por que sit-ins, marchas e assim por diante? Não seria a negociação um caminho melhor?” Vocês estão bastante certos em clamar por negociações. Na verdade, esse é o real propósito da ação direta. A ação direta pacífica busca criar uma tal crise e promover uma tal tensão que a comunidade que constantemente se recusou a negociar é forçada a confrontar o tema. Ela busca, assim, dramatizar um tema que não pode mais ser ignorado. Minha referência à criação de tensão como parte do trabalho do resistente pacífico pode soar um tanto chocante. Mas devo confessar que não tenho medo da palavra “tensão”. Opus-me veementemente à tensão violenta, mas há um tipo de tensão construtiva, pacífica, que é necessária para o crescimento. Assim como Sócrates sentiu que era necessário criar uma tensão na mente para que os indivíduos pudessem ascender da servidão de mitos e de meias verdades ao reino livre de amarras da análise criativa e da avaliação objetiva, também nós temos de ver a necessidade de impertinentes pacíficos para criar o tipo de tensão na sociedade que ajudará os homens a ascenderem das escuras profundezas do preconceito e do racismo às alturas majestosas da compreensão e da fraternidade. O propósito de nosso programa de ação direta é criar uma situação tão recheada de crise que inevitavelmente abrirá as portas à negociação. Eu, portanto, concordo com vocês no seu clamor por negociações. Nossas amadas terras do Sul têm estado atoladas por tempo demais em um trágico esforço para viver em um monólogo ao invés de em um diálogo.

Um dos pontos fundamentais em sua declaração é o de que a ação que eu e meus associados tomamos em Birmingham é inoportuna. Alguns perguntaram: “Por que vocês não deram à nova administração da cidade tempo para agir?” A única resposta que posso dar a essa indagação é que a nova administração de Birmingham tem de ser incitada tanto quanto a que está de saída, antes que ela aja. Estaremos tristemente enganados se sentirmos que a eleição de Albert Boutwell como prefeito trará uma época de ouro a Birmingham. Embora o Sr. Boutwell seja uma pessoa muito mais tolerante do que o Sr. Connor, ambos são segregacionistas, dedicados à manutenção do status quo. Tenho esperança em que o Sr. Boutwell será razoável o bastante para notar a futilidade de uma resistência ampla ao fim da segregação. Mas ele não notará isso sem a pressão dos partidários dos direitos civis. Meus amigos, tenho de dizer a vocês que não obtivemos um único ganho em direitos civis sem uma firme pressão legal e pacífica. Lamentavelmente, é um fato histórico que grupos privilegiados raramente renunciam aos seus privilégios por vontade própria. Indivíduos podem ver a luz da moral e renunciar voluntariamente às suas posturas injustas; mas, como Reinhold Niebuhr lembrou-nos, grupos tendem a ser mais imorais do que indivíduos.

Sabemos por meio de experiências dolorosas que a liberdade nunca é voluntariamente concedida pelo opressor; ela tem de ser exigida pelo oprimido. Francamente, ainda não tomei parte em uma campanha de ação direta que fosse “oportuna” na visão daqueles que não sofreram indevidamente da doença da segregação. Já faz anos que ouço a palavra “Espere!” Ela ressoa nos ouvidos de cada negro com uma familiaridade aguda. Esse “espere” quase sempre significou “nunca”. Temos de chegar à percepção, junto com um de nossos eminentes juristas, de que “a justiça adiada por muito tempo é justiça negada”.

Esperamos por mais de 340 anos por nossos direitos constitucionais e concedidos por Deus. As nações da Ásia e da África estão dirigindo-se com uma velocidade a jato rumo à conquista da independência política, mas nós ainda nos arrastamos a passo de cavalo e de charrete rumo à conquista de uma xícara de café em um aparador. Talvez seja fácil àqueles que nunca sentiram os dardos perfurantes da segregação dizer “espere”. Mas quando você viu bandos perversos lincharem suas mães e pais à vontade e afogar suas irmãs e irmão a seu capricho; quando você viu policiais cheios de ódio amaldiçoarem, chutarem e até matarem seus irmãos e irmãs negros; quando você vê a vasta maioria de seus vinte milhões de irmãos negros sufocando-se em uma jaula hermética da pobreza em meio a uma sociedade de abundância; quando você de repente descobre sua língua travada e sua fala gaga ao tentar explicar a sua irmã de seis anos de idade por que ela não pode ir ao parque de diversões público cuja propaganda acabou de passar na televisão, e vê lágrimas jorrando dos olhos dela quando lhe é dito que o Funtown está fechado para crianças de cor, e vê ameaçadoras nuvens de inferioridade começando a se formar no pequeno céu mental dela, e a vê começar a distorcer sua personalidade ao desenvolver um rancor inconsciente contra as pessoas brancas; quando você tem de inventar uma resposta a um filho de cinco anos de idade que está perguntando: “papai, por que as pessoas brancas tratam as pessoas de cor tão mal?”; quando você faz uma viagem através de seu estado e descobre ser necessário dormir noite após noite nos cantos desconfortáveis de seu carro porque nenhum motel o aceita; quando você é humilhado entra dia sai dia por sinais irritantes dizendo “branco” e “de cor”; quando seu prenome torna-se “neguinho”, seu nome do meio torna-se “menino” (não importa sua idade) e seu sobrenome torna-se “John”, e sua mulher e mãe nunca são chamadas pelo título respeitável de “Sras.”; quando você é perseguido de dia e assombrado à noite pelo fato de que você é um negro, vivendo constantemente na ponta dos pés, sem saber exatamente o que esperar em seguida, e é atormentado por medos interiores e ressentimentos exteriores; quando você está sempre lutando contra uma impressão degradante de “não ser ninguém” – então você entenderá porque achamos difícil esperar. Chega um momento em que a capacidade de suportar esgota-se, e os homens não estão mais dispostos a mergulhar no abismo do desespero. Espero, senhores, que vocês possam compreender nossa impaciência legítima e inevitável. Vocês manifestam uma boa dose de ansiedade quanto à nossa disposição de violar as leis. Essa é certamente uma preocupação legítima. Como nós exortamos tão ativamente as pessoas a obedecerem à decisão de 1954 da Suprema Corte que baniu a segregação em escolas públicas, à primeira vista pode parecer um tanto paradoxal que nós conscientemente violemos leis. Também se poderia perguntar: “Como vocês podem advogar a violação de certas leis e a obediência a outras?” A resposta está no fato de que existem dois tipos de leis: as justas e as injustas. Eu seria o primeiro a advogar a obediência a leis justas. Tem-se uma responsabilidade não só legal como também moral de obedecer a leis justas. De modo contrário, tem-se uma responsabilidade moral de desobedecer a leis injustas. Concordaria com Santo Agostinho em que “uma lei injusta simplesmente não é lei”.

Agora, qual é a diferença entre as duas? Como se pode determinar se uma lei é justa ou injusta? Uma lei justa é um código produzido pelo homem que se ajusta à lei moral ou à lei de Deus. Uma lei injusta é um código que está em desacordo com a lei moral. Para colocar nos termos de Santo Tomás de Aquino: uma lei injusta é uma lei humana que não está radicada na lei eterna e na lei natural. Qualquer lei que eleve a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrade a personalidade humana é injusta. Todos os estatutos segregacionistas são injustos porque a segregação desfigura a alma e danifica a personalidade. Ela dá ao segregador uma falsa impressão de superioridade e aos segregados, uma falsa impressão de inferioridade. A segregação, para usar a terminologia do filósofo judeu Martin Buber, substitui uma relação “eu-você” por uma relação “eu-isso” e acaba por relegar pessoas à condição de coisas. Portanto, a segregação não é apenas política, econômica e sociologicamente doentia: é moralmente errada e pecaminosa. Paul Tillich disse que o pecado é uma separação. A segregação não é uma expressão existencial da trágica separação do homem, da sua horrível alienação, da sua terrível pecaminosidade? Sendo assim, posso exortar os homens a obedecerem à decisão de 1954 da Suprema Corte, porque ela é moralmente correta; e posso exortá-los a desobedecerem a normas segregacionistas, porque elas são moralmente erradas.

Consideremos um exemplo mais concreto de leis justas e injustas. Uma lei injusta é um código que um grupo majoritário em termos de poder ou de número compele um grupo minoritário a obedecer, mas ao qual não se sujeita. Isso é a diferença tornada legal. Pela mesma razão, uma lei justa é um código que uma maioria compele uma minoria a seguir e que ela própria está disposta a seguir. Isso é a igualdade tornada legal. Deixe-me fazer outro esclarecimento. Uma lei é injusta se for imposta a uma minoria que, por ter o direito de votar negado a si, não participou da decretação ou da criação da lei. Quem pode dizer que o parlamento do Alabama que constituiu as leis segregacionistas daquele Estado foi democraticamente eleito? Por todo o Alabama, todos os tipos de métodos tortuosos foram usados para impedir os negros de tornarem-se eleitores registrados, e há alguns municípios em que, embora os negros componham a maioria da população, um negro sequer está registrado. Qualquer lei decretada sob essas circunstâncias pode ser considerada democraticamente estruturada?

Às vezes, uma lei é justa no papel e injusta na sua aplicação. Por exemplo, fui preso por uma acusação de fazer uma passeata sem autorização. Agora, não há nada de errado em existir uma norma que exija uma autorização para uma passeata. Mas essa norma torna-se injusta quando é usada para manter a segregação e negar a cidadãos o direito fundamental da primeira emenda à Constituição de reunião pacífica e de protesto.

Espero que vocês sejam capazes de observar a distinção que estou tentando mostrar. De modo algum, defendo a evasão e o desafio à lei, como faria o segregacionista furioso. Isso levaria à anarquia. Alguém que viole uma lei injusta tem de fazê-lo abertamente, amorosamente, e com disposição para aceitar a pena. Argumento que um indivíduo que viola uma lei que a consciência lhe diz que é injusta, e que aceita de bom grado a pena de prisão a fim de despertar a consciência da comunidade quanto à sua injustiça, está na verdade exprimindo o mais elevado respeito à lei.

Obviamente, não há nada de novo nessa forma de desobediência civil. Ela foi manifestada de maneira sublime pela recusa de Shadrach, Meshach e Abednego a obedecerem às leis de Nabucodonosor, sob o argumento de que estava em jogo uma lei moral mais elevada. Foi praticada soberbamente pelos primeiros cristãos, que preferiam enfrentar leões famintos e a dor torturante do talho a submeter-se a certas leis injustas do Império Romano. Até certo ponto, a liberdade acadêmica é uma realidade hoje porque Sócrates praticou a desobediência civil. Na nossa própria nação, o Boston Tea Party representou um ato imponente de desobediência civil.

Nunca devemos nos esquecer de que tudo que Adolf Hitler fez na Alemanha era “legal” e tudo que os combatentes húngaros da liberdade fizeram na Hungria era “ilegal”. Era “ilegal” ajudar e confortar um judeu na Alemanha de Hitler. Ainda assim, tenho certeza de que, se tivesse vivido na Alemanha naquele tempo, teria ajudado e confortado meus irmãos judeus. Se vivesse hoje em um país comunista onde certos princípios caros à fé cristã foram suprimidos, defenderia abertamente a desobediência às leis antirreligiosas do país.

Tenho de fazer duas confissões sinceras a vocês, meus irmãos cristãos e judeus. Primeiro, tenho de confessar que ao longo dos últimos anos decepcionei-me seriamente com os brancos moderados. Quase cheguei à lamentável conclusão de que a maior pedra no caminho dos negros em seu avanço rumo à liberdade não é o White Citizen’s Counciler ou o membro da Ku Klux Klan, mas os brancos moderados, que são mais zelosos da “ordem” do que da justiça; que preferem uma paz negativa que é a ausência de tensão a uma paz positiva que é a presença da justiça; que dizem constantemente: “concordo com vocês quanto ao objetivo que buscam, mas não posso concordar com seus métodos de ação direta”; que acreditam paternalisticamente que podem fixar o cronograma para a liberdade de outro homem; que vivem sob um conceito mítico do tempo e que constantemente aconselham o negro à espera por uma “época mais apropriada”. A compreensão superficial de pessoas de boa vontade é mais frustrante do que a incompreensão completa de pessoa de má vontade. A aceitação morna é muito mais atordoante do que a rejeição total.

Eu tinha tido esperanças de que os brancos moderados compreenderiam que a lei e a ordem existem para o propósito de estabelecer a justiça e que quando fracassam nesse propósito tornam-se represas estruturadas perigosamente que bloqueiam o curso do progresso social. Tinha tido esperanças de que os brancos moderados compreenderiam que a atual tensão no sul é uma fase necessária da transição de uma detestável paz negativa, em que os negros passivamente aceitavam suas injustas situações difíceis, para uma paz positiva e substantiva, em que todos os homens respeitarão a dignidade e o valor da personalidade humana. Na realidade, nós que nos envolvemos em ações diretas pacíficas não somos os criadores da tensão. Tão-somente trazemos à superfície a tensão oculta que já existe. Descortinamo-la, para que possa ser vista e tratada. Como um furúnculo que não pode ser curado enquanto estiver coberto, mas que deve ser exposto com toda a sua feiura aos remédios naturais do ar e da luz, a injustiça tem de ser desvendada, com toda a tensão que sua exposição gera, à luz da consciência humana e ao ar da opinião nacional, antes que possa ser curada.

Em sua declaração, vocês afirmam que nossas ações, embora pacíficas, devem ser condenadas porque precipitam a violência. Mas essa é uma afirmação lógica? Isso não equivale a condenar um homem roubado porque sua posse de dinheiro precipitou o ato mau do roubo? Isso não equivale a condenar Sócrates porque seu compromisso inabalável com a verdade e suas investigações filosóficas precipitaram o ato do povo mal orientado pelo qual o fizeram beber a cicuta? Isso não equivale a condenar Jesus porque sua singular consciência divina e devoção inesgotável à vontade de Deus precipitaram o ato mau da crucificação? Devemos notar que, como os tribunais federais consistentemente afirmaram, é errado incitar um indivíduo a interromper seus esforços para obter seus direitos constitucionais básicos porque a jornada pode precipitar a violência. A sociedade tem de proteger o roubado e punir o ladrão. Também tinha tido esperanças de que os brancos moderados rejeitariam o mito concernente ao tempo em relação à luta pela liberdade. Recebi há pouco uma carta de um irmão branco do Texas. Ele escreve: “Todos os cristãos sabem que as pessoas de cor um dia receberão direitos iguais, mas é possível que vocês estejam com uma pressa religiosa grande demais. A cristandade precisou de quase dois mil anos para alcançar o que tem hoje. Os ensinamentos de Cristo demoram a chegar a Terra.” Essa concepção decorre de um trágico conceito errôneo do tempo, da noção estranhamente irracional de que há algo no próprio curso do tempo que inevitavelmente curará todos os males. Na realidade, o tempo em si é neutro; pode ser usado quer destrutivamente, quer construtivamente. Cada vez mais, sinto que as pessoas de má vontade usam o tempo de modo muito mais eficaz do que as pessoas de boa vontade. Nós nos arrependeremos, no tocante a essa geração, não apenas das palavras e ações odiáveis das pessoas más, como também do silêncio espantoso das pessoas boas. O progresso humano nunca advém da roda da inevitabilidade; ele deflui dos incansáveis esforços de homens dispostos a serem colegas de trabalho de Deus, e, sem esse trabalho duro, o próprio tempo torna-se um aliado das forças da estagnação social. Temos de usar o tempo criativamente, com base no conhecimento de que o tempo sempre está pronto para fazer o certo. Agora é a hora de tornar real a promessa de democracia e de transformar nossa iminente elegia nacional em um criativo salmo da fraternidade. Agora é a hora de alçar nossa política nacional da areia movediça da injustiça racial à sólida rocha da dignidade humana.

Vocês falam de nossa atividade em Birmingham como extrema. A princípio, fiquei um pouco decepcionado com o fato de amigos clérigos considerarem meus esforços pacíficos como os de um extremista. Comecei a pensar sobre o fato de que me situo no meio de duas forças opostas na comunidade negra. Uma é a força da complacência, composta em parte por negros que, como resultado de longos anos de opressão, estão tão carentes de amor-próprio e da sensação de “ser alguém” que se adaptaram à segregação; e em parte de alguns negros de classe média que, devido a certo grau de segurança acadêmica e econômica e porque se beneficiam de algum modo da segregação, tornaram-se insensíveis aos problemas das massas. A outra é uma força da amargura e do ódio, que chega perigosamente perto de defender a violência. Manifesta-se em vários grupos nacionalistas negros que estão brotando por todo o país, sendo o maior e mais conhecido o movimento islâmico de Elijah Muhammad. Alimentado pela frustração dos negros pela existência contínua da discriminação racial, esse movimento é composto de pessoas que perderam a fé nos Estados Unidos, que repudiaram completamente o cristianismo e que concluíram que o homem branco é um “demônio” incorrigível.

Tentei me situar entre essas duas forças, dizendo que não precisamos imitar nem a inação dos complacentes nem o ódio e o desespero dos nacionalistas negros. Porque existe a maneira muito melhor do amor e do protesto pacífico. Sou grato a Deus por, mediante a influência da igreja negra, a maneira do pacifismo ter-se tornado uma parte essencial de nossa luta. Se essa filosofia não tivesse surgido, muitas ruas do sul estariam agora, tenho certeza, com rios de sangue. Estou ainda mais certo de que, se nossos irmãos brancos repudiarem aqueles de nós que empregam ações diretas pacíficas como “um bando de inflamados” ou “forasteiros agitadores”, e se se recusarem a apoiar nossos esforços pacíficos, milhões de negros buscarão, por frustração e desespero, consolo e segurança em ideologias nacionalistas negras – uma evolução que inevitavelmente levaria a um assustador pesadelo racial.

Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre. A ânsia pela liberdade por fim manifesta-se, e foi isso que aconteceu com o negro americano. Algo em seu interior lembrou-lhe de seu direito inato à liberdade, e algo exterior lembrou-lhe que ele pode ser obtido. Consciente ou inconscientemente, ele foi apanhado pelo espírito da época, e com seus irmãos negros da África e seus irmãos amarelos e pardos da Ásia, da América do Sul e do Caribe, o negro dos Estados Unidos está se movendo com uma sensação de incrível urgência rumo à terra prometida da justiça racial. Ao reconhecer-se esse anseio vital que se apoderou da comunidade negra, entende-se prontamente por que manifestações públicas estão ocorrendo. O negro tem muitos ressentimentos reprimidos e frustrações latentes, e ele precisa libertá-los. Então, deixe-o marchar; deixe-o fazer peregrinações pias às prefeituras; deixe-o ir em viagens pela liberdade – e tente entender por que ele tem de fazê-lo. Se suas emoções reprimidas não forem liberadas de maneiras pacíficas, buscarão expressão por meio da violência; isso não é uma ameaça, mas um fato histórico. Assim, não disse ao meu povo: “livre-se de seu desgosto”. Antes, tentei dizer que esse desgosto normal e saudável pode ser canalizado por escapes criativos como a ação direta pacífica. E agora esse método está sendo denominado de extremista. Mas, embora tenha ficado inicialmente decepcionado ao ser classificado como extremista, continuando a pensar sobre o assunto, gradualmente extraí certa dose de satisfação do rótulo. Não era Jesus um extremista do amor: “Ame seus inimigos, abençoe aqueles que te amaldiçoam, faça o bem àqueles que te odeiam e reze por aqueles que desprezivelmente te usam e te atormentam”? Não era Amos um extremista da justiça: “Deixem a justiça fluir como as águas e a probidade como um rio que nunca para”? Não era Paulo um extremista do evangelho cristão: “Carrego no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”? Não era Martinho Lutero um extremista: “Aqui estou; não tenho alternativa, então que Deus me ajude”? E John Bunyan: “Ficarei na prisão até o fim dos meus dias, até que faça da minha consciência um matadouro”? E Abraham Lincoln: “Esse país não pode sobreviver metade escravo e metade livre”? E Thomas Jefferson: “Temos essas verdades como auto-evidentes, de que todos os homens nascem iguais...”? Assim, a questão não é se seremos extremistas, mas que tipo de extremistas seremos. Seremos extremistas do ódio ou do amor? Seremos extremistas da preservação da injustiça ou da extensão da justiça? Naquela cena dramática do Calvário, três homens foram crucificados. Nunca devemos nos esquecer de que todos os três foram crucificados pelo mesmo crime – o crime de extremismo. Dois eram extremistas da imoralidade e, assim, estavam abaixo dos demais. O outro, Jesus Cristo, era um extremista do amor, da verdade e do bem, e, por conseguinte, ergueu-se acima dos demais. Talvez o sul, o país e o mundo estejam com uma terrível carência de extremistas criativos.

Tivera esperança de que os brancos moderados notariam essa carência. Talvez estivesse otimista demais; talvez esperasse demais. Suponho que deveria ter percebido que poucos membros da raça opressora podem compreender os graves gemidos e os anseios apaixonados da raça oprimida, e que menos ainda têm a perspicácia para notar que a injustiça tem de ser extirpada por ações fortes, persistentes e determinadas. Sou grato, contudo, pelo fato de que alguns de nossos irmãos brancos do sul alcançaram o significado dessa revolução social e empenharam-se nela. Eles ainda são muito poucos em quantidade, mas são muitos em qualidade. Alguns – como Ralph McGill, Lillian Smith, Harry Golden, James McBride Dabbs, Ann Braden e Sarah Patton Boyle – escreveram sobre nossa luta em termos eloquentes e proféticos. Outros marcharam conosco por ruas sem nome do sul. Debilitaram-se em prisões imundas, infestada por baratas, sofrendo os abusos e a brutalidade de policiais que os veem como “sujos amantes dos negros”. Diferentemente de tantos de seus irmãos e irmãs moderados, reconheceram a urgência do momento e sentiram a necessidade de poderosos antídotos “de ação” para combater a doença da segregação. Deixem-me tomar nota de minha outra grande decepção. Decepcionei-me tão imensamente com a igreja branca e suas lideranças. É claro, há algumas notáveis exceções. Não me esqueço do fato de que cada um de vocês tomou algumas posições significativas nesse tema. Louvo-o, reverendo Stallings, pela sua postura cristã no último domingo, ao receber negros nos seus serviços de devoção de maneira não-segregacionista. Louvo os líderes católicos desse Estado por terem integrado o Spring Hill College muitos anos atrás.

Mas, apesar dessas notáveis exceções, tenho de sinceramente reiterar que me decepcionei com sua igreja. Não digo isso como um daqueles críticos negativos que sempre conseguem encontrar algo errado na igreja. Digo isso como um sacerdote do evangelho, que ama a igreja; que foi acalentado em seu seio; que tem sido sustentado por suas bênçãos espirituais e que permanecerá fiel a ela enquanto o fio da vida estender-se.

Quando fui de repente catapultado à liderança do protesto dos ônibus em Montgomery, Alabama, há alguns anos, achei que seríamos apoiados pela igreja branca. Achei que os sacerdotes, os padres e os rabinos brancos do sul estariam entre os nossos mais firmes aliados. Ao contrário, alguns foram completos oponentes, recusando-se a compreender o movimento pela liberdade e deturpando seus líderes; muitos outros foram mais cautelosos do que corajosos e permaneceram mudos atrás da segurança anestesiante das janelas de vitral.

A despeito de meus sonhos despedaçados, vim a Birmingham com a esperança de que a liderança religiosa branca dessa comunidade veria a justiça de nossa causa e, com profunda preocupação moral, serviria como canal através do qual nossas justas queixas alcançariam a estrutura do poder. Tivera esperança de que cada um de vocês compreenderia. Mas, de novo, decepcionei-me.

Ouvi numerosos líderes religiosos sulistas admoestarem seus devotos a cumprir a decisão contra a segregação porque é a lei, mas ansiei por ouvir sacerdotes brancos declararem: “Sigam esse decreto porque a integração é moralmente correta e porque o negro é seu irmão.” Em meio a barulhentas injustiças infligidas sobre o negro, observei membros da igreja permanecerem à distancia e declamarem irrelevâncias pias e platitudes carolas. Em meio a uma vigorosa luta para livrar nosso país da injustiça racial e econômica, ouvi muitos sacerdotes dizerem: “Esses são temas sociais, com os quais o evangelho não tem nenhuma preocupação real”. E vi muitas igrejas empenharem-se numa religião completamente de outro mundo que faz uma estranha e não-bíblica distinção entre o corpo e a alma, entre o sagrado e o secular.

Viajei acima e abaixo por Alabama, Mississipi e todos os outros estados sulistas. Em dias sufocantes de verão e manhãs revigorantes de outono, contemplei as lindas igrejas do sul, com seus cumes majestosos apontados em direção aos céus. Admirei os perfis impressionantes dos amplos edifícios de educação religiosa. Repetidamente, peguei-me perguntando: “Que tipo de pessoa ora aqui? Quem é seu Deus? Onde estavam suas vozes quando dos lábios do governador Barnett respingaram palavras de interposição e nulificação? Onde elas estavam quando o governador Wallace deu um toque de clarim em favor do desafio e do ódio? Onde estavam suas vozes de apoio quando homens e mulheres negros, feridos e exaustos, decidiram levantar-se dos calabouços escuros da complacência até as colinas claras do protesto criativo?”

Sim, essas perguntas ainda estão na minha mente. Em decepção profunda, chorei pela frouxidão da igreja. Mas estejam certos de que minhas lágrimas foram lágrimas de amor. Não pode existir decepção profunda onde não existe amor profundo. Sim, amo a igreja. Como poderia não amar? Estou na posição um tanto singular de filho, neto e bisneto de pregadores. Sim, vejo a igreja como o corpo de Cristo. Mas, oh!, como maculamos e deixamos cicatrizes nesse corpo por meio da negligência social e por meio do medo de sermos não-conformistas.

Houve um tempo em que a igreja era bastante ponderosa – no tempo em que os primeiros cristãos regozijavam-se por ser considerados dignos de ter sofrido por aquilo em que acreditavam. Naqueles dias, a igreja não era apenas um termômetro que registrava as idéias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Quando os primeiros cristãos entravam em uma cidade, as pessoas no poder ficavam transtornadas e imediatamente buscavam condenar os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “forasteiros agitadores”. Mas os cristãos prosseguiam, com a convicção de que eram “uma colônia do céu”, que devia obediência a Deus e não ao homem. Pequenos em número, eram grandes em compromisso. Eles eram intoxicados demais por Deus para serem “astronomicamente intimidados”. Com seu esforço e exemplo, puseram um fim em maldades antigas como o infanticídio e duelos de gladiadores. As coisas são diferentes agora. Com tanta frequência a igreja contemporânea é uma voz fraca, ineficaz com um som incerto. Com tanta frequência é uma arquidefensora do status quo. Longe de se sentir transtornada pela presença da igreja, a estrutura do poder da comunidade normal é confortada pela sanção silenciosa – e com frequência sonora – da igreja das coisas tais como são.

Mas o julgamento de Deus pesa sobre a igreja como nunca pesou. Se a igreja atual não recuperar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, será privada da lealdade de milhões e será descartada como um clube social irrelevante com nenhum significado para o século XX. Todos os dias, encontro pessoas jovens cuja decepção com a igreja tornou-se uma repugnância absoluta.

Talvez tenha sido mais uma vez otimista demais. Estará a religião organizada ligada inextricavelmente demais ao status quo para salvar o país e o mundo? Talvez deva dirigir minha fé à igreja interior, espiritual, a igreja dentro da igreja, como a verdadeira ekklesia e a esperança do mundo. Mas, de novo, sou grato a Deus por algumas almas nobres das fileiras da igreja organizada terem rompido as correntes paralisantes do conformismo e unido-se a nós como parceiros ativos na luta pela liberdade. Eles abandonaram suas congregações seguras e percorreram as ruas de Albany, Geórgia, conosco. Desceram as rodovias do sul em viagens tortuosas pela liberdade. Sim, foram para a cadeia conosco. Alguns foram expulsos de suas igrejas, perderam o apoio de seus bispos e colegas sacerdotes. Mas agiram com a fé de que o bem derrotado é mais forte do que o mal triunfante. Sua testemunha tem sido o sal espiritual que tem preservado o verdadeiro significado do evangelho nesses tempos turbulentos. Eles cavaram um túnel de esperança através da montanha negra da decepção. Espero que a igreja como um todo enfrente o desafio nessa hora decisiva. Mas mesmo que a igreja não venha ajudar a justiça, não perco a esperança no futuro. Não tenho medo a respeito do resultado de nossa luta em Birmingham, mesmo que nossas razões sejam no momento mal compreendidas. Alcançaremos a meta da liberdade em Birmingham e no mundo inteiro, porque a meta dos Estados Unidos é a liberdade. Não importa se estamos ofendidos e escarnecidos, nosso destino está ligado ao destino dos Estados Unidos. Antes de os peregrinos desembarcarem em Plymouth, estávamos aqui. Antes de a pena de Jefferson desenhar as palavras majestosas da Declaração de Independência através das páginas da história, estávamos aqui. Por mais de dois séculos, nossos antepassados trabalharam nesse país sem receber salários; eles colheram o algodão; eles construíram as casas de seus senhores enquanto sofriam injustiças crassas e humilhações vergonhosas – e, no entanto, com uma vitalidade sem fim, continuaram a prosperar e a desenvolver-se. Se as crueldades inenarráveis da escravidão não puderam parar-nos, a oposição que enfrentamos agora certamente fracassará. Ganharemos nossa liberdade porque a herança sagrada de nosso país e a eterna vontade de Deus estão incorporadas nas nossas sonoras exigências. Antes de encerrar, sinto-me impelido a mencionar outro ponto em sua declaração que me perturbou profundamente. Vocês calorosamente elogiaram a força policial de Birmingham por manter a “ordem” e “impedir a violência”. Duvido que teriam elogiado tão calorosamente a força policial se tivessem visto seus cães afundando seus dentes em negros desarmados, pacíficos. Duvido que teriam elogiado tão rapidamente os policiais se fossem observar seu tratamento horrível e desumano dos negros aqui na prisão municipal; se fossem vê-los empurrar e amaldiçoar velhas mulheres negras e jovens meninas negras; se fossem vê-los estapear e chutar velhos homens negros e jovens meninos; se fossem observá-los, como fizeram em duas ocasiões, negar-nos comida porque queríamos cantar nossa oração juntos. Não posso acompanhá-los no seu louvor ao departamento de polícia de Birmingham.

É verdade que a polícia demonstrou um nível de disciplina ao lidar com os manifestantes. Nesse sentido, eles se conduziram um tanto “pacificamente” em público. Mas com que propósito? Para preservar o sistema maligno da segregação. Ao longo dos últimos anos, continuamente preguei que o pacifismo exige que os meios que usamos devem ser tão puros quanto os fins que buscamos. Tentei deixar claro que é errado usar meios imorais para alcançar fins morais. Mas agora tenho de afirmar que isso é tão errado, ou talvez ainda mais errado, quanto usar meios morais para preservar fins imorais. Talvez o Sr. Connor e seus policiais tenham sido um tanto pacíficos em público, como foi o coronel Pritchett em Albany, Geórgia, mas eles usaram os meios morais do pacifismo para manter o fim imoral da injustiça racial. Como T. S. Eliot disse: “A última tentação é a maior traição: fazer a coisa certa pelo motivo errado.”

Gostaria que vocês tivessem louvado os sit-inners e manifestantes negros de Birmingham pela sua coragem sublime, sua disposição para sofrer e sua disciplina incrível em meio a uma grande provocação. Um dia, o sul reconhecerá seus verdadeiros heróis. Eles serão os James Merediths, com o nobre senso de justiça que lhes permite enfrentar bandos zombeteiros e hostis, e com a solidão agonizante que caracteriza a vida do pioneiro. Eles serão as velhas, oprimidas, castigadas mulheres negras, simbolizadas em uma velha mulher de setenta e dois anos de idade de Montgomery, Alabama, que se ergueu com um senso de dignidade e com seus iguais decidiu não viajar em ônibus segregacionistas, e que respondeu com profundidade agramatical a alguém que lhe indagou sobre seu cansaço: “Meus pé está cansado, mas minha alma está em paz.” Eles serão os estudantes colegiais e universitários, os jovens sacerdotes do evangelho e uma multidão de seus pais, corajosa e pacificamente sentando-se em aparadores e dispostos a ir para cadeia por amor à consciência. Um dia, o sul saberá que quando esses filhos deserdados de Deus sentaram-se em aparadores, estavam na verdade fazendo jus ao que há de melhor no sonho americano e o que há de mais sagrado nos valores de nossa herança judaico-cristã, desse modo trazendo nosso país de volta àqueles grandes poços de democracia que foram cavados em profundidade pelos pais fundadores na sua formulação da Constituição e da Declaração de Independência.

Nunca escrevi uma carta tão longa. Temo que seja longa demais para tomar seu tempo precioso. Posso lhes garantir que teria sido muito menor se a tivesse escrito em uma mesa confortável, mas o que mais se pode fazer quando se está sozinho em um cela apertada a não ser escrever longas cartas, pensar longos pensamentos e rezar longas orações?

Se disse algo nessa carta que exagera os fatos e indica uma impaciência imoderada, peço que me perdoem. Se disse algo que atenua os fatos e indica uma paciência que me permite conciliar-me com algo menor do que a fraternidade, peço a Deus que me perdoe.

Espero que essa carta encontre-os fortes em sua fé. Espero também que as circunstâncias em breve permitam que me encontre com cada um de vocês, não como um integracionista ou um líder dos direitos civis, mas como um colega clérigo e um irmão cristão. Tenhamos todos esperança em que as nuvens negras do preconceito desapareçam em breve e a neblina profunda da incompreensão dissipe-se das nossas comunidades cheias de medo, e que em um amanhã não muito distante as estrelas radiantes do amor e da fraternidade brilhem sobre nosso grande país com toda a sua beleza cintilante.

Sinceramente, pela causa da Paz e da Fraternidade, Martin Luther King, Jr.