quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Liberdade relativa

Pessoas são definidas por suas concepções do que vem a ser liberdade. Por isso, compreender o conceito alheio é tão importante em minha opinião. Conhecer opiniões é a melhor maneira de conhecer as pessoas integralmente. E partir para um momento de confronto de idéias, invariavelmente é o que nos transforma em pessoas melhores.

Não pretendo expor detalhes sobre meus pontos de vista neste momento. Entendo que faço isso o tempo inteiro… desde os não-motivos pelos quais sou corinthiano, às minhas convicções bíblicas mais fundamentadas. Gostaria de propor idéias absurdas, numa tentativa de relativizar o que vem a ser liberdade.

Pra começar, imagine o velho jardim do Éden, segundo a bíblia, habitação do primeiro homem e de sua mulher nos primórdios da humanidade. Tenho plena convicção de que a maioria esmagadora das pessoas idealiza uma imagem muito semelhante de tal jardim. Pois tentemos olhar para os fatos de um ponto de vista diferente. O jardim era como um bordel. Sexo rolando em todo e qualquer lugar. Adão era um cara atacado. Traçava todas as mulheres do local. E sua mulher também não ficava atrás. Entregava-se com prazer ao primeiro homem que passasse em sua frente. Deus fazia vistorias periódicas ao final do dia, embora na verdade ele estava de olho em tudo, numa espécie de pay-per-view do Big Brother. E homem e mulher eram seres livres. Sem o peso (e a possibilidade) de compararem indivíduos, estavam livres e plenamente satisfeitos com o que tinham. Esta liberdade é suficiente para você?

Passemos a outro assunto bem interessante. Posso eu, enquanto cristão, consumir bebidas alcoólicas? Creio que esta discussão rende muitas controvérsias. Mas para relativizarmos o assunto de maneira definitiva, que tal falarmos sobre o consumo da maconha?

Posso eu, enquanto cristão, enquanto salvo, enquanto pastor… ser um consumidor de maconha? Sejamos diretos: o que a bíblia diz explicitamente sobre o assunto? Pra começar, não há uma referência sequer direcionada ao consumo de produtos fumígeros. Mas há uma quantidade significativa de instruções no Novo Testamento em favor de não destruírmos a nós mesmos. Porém, o conceito de destruir-se pode ser estendido a tudo aquilo pode causar dano a nossa saúde. Da Coca Cola gelada que bebemos diariamente… passando pelo consumo excessivo de carne vermelha… e chegando finalmente na abstensão de determinados alimentos (que nos prejudica pela falta de determinados nutrientes).

Afinal, é PERMITIDO ou não que um cristão consuma maconha?

Claro que sim! A liberdade conquistada na cruz nos garante o direito de fazer todas as coisas. Porém, o apóstolo Paulo enfatiza o quanto PODER não significa DEVER. Somos livres inclusive para pecar. Mas não devemos. Algumas coisas não valem a pena. E liberdade nada tem a ver com fazer, mas simplesmente como compreender que a possibilidade e responsabilidade moral de errar existe.

Exijo o meu direito de consumir entorpecentes. Para que eu possa, no auge da concepção da liberdade em Cristo, renunciar. Quero o direito de fumar cigarros, para evitá-los. Quero poder beber livremente, para nunca exagerar.

E aqueles que não vivem em plena liberdade por não possuírem conceitos esclarecidos sobre o que é PODER e o que vem a ser CONVENIENTE, estes serão recebidos no convívio da Igreja sem pré-julgamentos.

Apenas quem vive em plena liberdade é capaz de amar incondicionalmente a outros. Apenas quem aprendeu a ser livre, será capaz de ajudar outros a encontrarem o único CAMINHO para a verdadeira liberdade.

Esta liberdade é suficiente para você?

Por Ariovaldo Jr ⋅ 28 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

De como nos congratulamos sem cessar

Minha mesquinheza não tem limites, mas não é sempre que recorro à custosa lucidez que poderia manter-me consciente deste detalhe.

Terá sido há vinte anos, mas lembro claramente o dia em que diagnostiquei em mim mesmo o mecanismo de congratulação infinita, através do qual me parabenizo incessantemente pela qualidade equilibrada e excelsa da minha posição. Percebi que, quando estava na casa de alguém muito pobre, agradecia em oração silente a Deus o fato de não ser tão pobre quanto aquela pessoa, e de poder dessa forma ser poupado dos pecados e tentações da pobreza; paralelamente, quando estava na casa de um homem mais rico, Consideramo-nos as mais equilibradas e admiráveis das criaturas.congratulava-me pelo fato de não ser tão rico quanto ele, e de ser dessa forma poupado dos pecados muito evidentes da sua riqueza.

Quando uma coisa aconteceu logo após a outra fui capaz de enxergar por um instante o mecanismo por trás da cortina, e recuei em absoluto horror diante de mim mesmo. Mas não tenha pena de mim, porque essa espécie de lucidez só dura um momento. Na maior parte do tempo somos precisamente como o fariseu da parábola, que felicitava-se – e diante de Deus! – por não ser pecador como aquele cobrador de impostos. De fato, consideramo-nos as mais equilibradas, compensadas e admiráveis das criaturas, e damos constantes tapinhas nas nossas próprias costas a fim de festejar adequadamente esses méritos.

Fazemos isso condenando sem cessar, do alto de nossa posição, as descompensações dos outros. Não me lembro de ter visto esse mecanismo articulado de forma mais brilhante do que nesta tira do genial David Malki !, em que um desprezível protagonista, que somos nós, professa sua fé:

– Qualquer um mais inteligente que eu é um nerd; qualquer um mais burro que eu é um idiota. Qualquer um mais velho que eu é um decrépito; qualquer um mais novo que eu é um guri. Qualquer um menos promíscuo que eu é um puritano; qualquer um mais promíscuo que eu é um puto.

E, enquanto nos julgamos no centro do equilíbrio, somos poupados dos riscos que ocasionaria avançar em qualquer direção. Bendita seja nossa mediocridade, que nos salva a cada minuto da insensatez que seria avançar em direção à grandeza.

por Paulo Brabo

FONTE: www.baciadasalmas.com/

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Impureza Sexual tem Cura? - PARTE 2

O meu corpo sou eu, ou não sou eu, afinal de contas?

Os espíritas e alguns irmãos neopentecostais dizem que somos espíritos que habitam em corpos -- mas isso não pode ser verdade. Afinal, Deus disse a Adão: “Tu és pó”. Então o corpo também sou eu. Estranhamente, no entanto, o apóstolo Paulo, que não era espírita nem neopentecostal, dizia que o seu corpo era a sua “casa”.

Ora, se eu sou meu corpo, mas também posso tratá-lo como a minha casa, então há algum tipo de complexidade em mim; talvez, haja uma dualidade. Sou capaz de não apenas ter um eu, mas saber que tenho um eu, e até mesmo dialogar comigo mesmo. E mais: posso me relacionar com o meu corpo (que também sou eu) a ponto de tratá-lo como “eu” e “ele” ao mesmo tempo, como Paulo faz em Romanos capítulo 7, dizendo coisas como “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum”, e logo depois que “o querer o bem está em mim”.

Bem, acredito que essa dualidade tem tudo a ver com a questão da impureza sexual. No artigo anterior falei sobre a necessidade do amor ao próximo para lidar com a impureza sexual; agora vou tocar em outro ponto -- o amor do homem por seu próprio corpo. Porém, não quero tratar do assunto do ponto de vista tipicamente psíquico, ligado à questão da autoestima; é que, de algum modo, sinto que a nossa visão sobre a relação entre a personalidade e o corpo tem um impacto estruturante em nossa ética sexual. Certo, parece uma afirmação trivial. Mas minha experiência me diz que a trivialidade anestesia o nosso senso crítico.

Passemos então sem demora à discussão do assunto: como é essa relação entre mim e o meu corpo?

Dentro e fora

Vamos assumir que de um jeito ou de outro meu espírito e meu corpo sejam o mesmo “eu”, a “alma vivente”, feita de pó da terra e espírito de vida. Como poderíamos representar tal coisa? Talvez possamos dizer que somos como um tecido dobrado. Pela dobra o tecido se encontra consigo mesmo, uma ponta com a outra; e assim, dobrados, podemos olhar nossas faces no espelho, e esse fato curioso acontece: o olho atenta para a face, e vê a alma nela; e a alma olha pelos olhos, e sabe que aquela face é sua.

Difícil? Talvez seja melhor usar uma feliz expressão de Paulo: o “homem interior” e o “homem exterior”. Essa é, sem dúvida, uma boa imagem da coisa toda. Tenho um “dentro” e um “fora”; uma “superfície” e uma “profundidade”. Na profundidade está o meu centro -- o coração; e na superfície, torna-se patente o que o coração é. Sim, Paulo não inventou isso; a ideia é muito mais antiga: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). Na antropologia bíblica, o homem tem um centro; um “self” no qual tudo o que ele é está concentrado. Poderíamos dizer que o corpo é o coração patente, e o coração o corpo latente.

Vou estender um bocadinho a metáfora e apontar algo que, creio, ela implica: que há uma espécie de “distância” natural entre “eu” e “eu”; mais precisamente, entre a minha autoconsciência, e o meu corpo. A distância entre o interior e o exterior faz com que haja um “atraso” entre os dois. Às vezes o interior é de um jeito, e o exterior de outro. A mudança de um não implica uma resposta imediata do outro. E podemos até colocar um contra o outro, pasmem!

Ora, os exemplos disso não faltam. O hipócrita é de um jeito por dentro, e de outro por fora. O homem vê o exterior, mas o Senhor vê o coração (1Sm 16.7). Tem gente feia por dentro e bonita por fora, feia por fora e bonita por dentro. “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero esse faço”, disse o velho rabi. Já me imaginei tocando piano de um jeito, mas constatei no último domingo que minhas mãos não me obedecem. Quero chorar, mas dou um sorriso para despistar. E, se a minha “casa” se desfizer, há outra para mim, “reservada nos céus” (2Co 5.1).

Em princípio, esse “atraso” é bom. Ele faz com que, de certo modo, possamos ser e não ser ao mesmo tempo. É algo como a diferença de potencial ou tensão entre dos fios elétricos; justamente essa diferença faz surgir a corrente elétrica. A tensão entre o homem interior e o homem exterior faz a gente ter “dinâmica”. Precisamos nos tornar conscientes do que somos e exercitar a vontade para harmonizar o dentro e o fora. Desse modo, a consistência deixa de ser algo dado, para ser objeto de conquista. Será preciso escolher ser consistente -- escolher ser uma pessoa integrada.

Dentro sem fora e fora sem dentro?

E aqui, como sempre, temos que falar do pecado. Por causa da queda do homem e de seu afastamento de Deus criou-se, mais do que um descompasso, uma ruptura entre o dentro e o fora. A ponto de “o pó voltar para a terra, e o espírito voltar para Deus, que o deu”. Cada homem, por causa do pecado, vive morrendo; vive o processo de ser lentamente rasgado, até que a corrente “elétrica” cesse dentro de si. E a característica dessa ruptura final é a perda do corpo, a sua superfície. Isso é o que significa a morte: não há mais imagem; não há mais uma face com músculos para mostrar o sorriso da alma.

Claramente, se nos damos conta dessa distância, compreenderemos que a morte é o que se mostra no alargamento dessa distância. É mortal tudo aquilo que me impede de ser consistente, de manter a conexão entre o interno e o externo. Todo conceito, decisão ou processo que produz a inconsistência é mortal; tudo o que promove a independência da alma em relação ao corpo, ou do corpo em relação à alma, é mortal.

Mortal é a filosofia de Descartes. Pois ele estabeleceu a razão como critério absoluto da verdade, e por isso duvidou de tudo o que não pudesse demonstrar racionalmente. Por isso duvidou até da existência do seu corpo, a “res extensa”, e identificou o seu ego com o pensamento, a “res cogitans”: “Penso, logo existo”. Daí pra frente, demonstrar como a alma racional se relaciona com o corpo virou um problemão. O pensamento ocidental permaneceu oscilando entre dois extremos: diminuir o corpo material (idealismo), ou negar a existência da alma (empirismo Humeano), dissolvendo-a no corpo.

A última opção anda bem popular hoje em dia. Mortal é o pensamento de Daniel Dennett, que considera a liberdade uma ilusão criada pelo cérebro, o qual não passaria de uma máquina bioquímica. Mortal é o pensamento do grande Claude Levi-Strauss, que aguardava ansiosamente pela aniquilação definitiva das ideias de “eu”, “self” ou “alma”, a partir de uma espécie de materialismo racionalista. Deve ter sido uma decepção para ele descobrir-se tendo um eu sem corpo -- o que é a sua condição atual desde o fim de outubro.

Assim, dentro da filosofia, se traça um suicídio do humano, negando-se a distinção entre o dentro e o fora, ou esticando-se a conexão até a ruptura -- tudo sempre em nome de uma superação do dualismo. Mas não se pode confundir dualidade com dualismo. Mortal é a destruição da dualidade.

Da filosofia para o sexo

Antes que o leitor desista de esperar, vou dizer logo o que isso tudo tem que ver com sexo, e com impureza sexual. Alguns leitores mais atentos provavelmente já pegaram a pista. É que há uma relação interna entre a nossa ética sexual contemporânea e a ruptura da dualidade fora/dentro, consciência/corpo.

O que os modernos pensam a respeito do homem é que ele deve ser livre. É preciso promover a liberdade humana nas artes, no pensamento, na política, e na sexualidade. E a liberdade significa a indeterminação, ou o arbítrio. Fala-se às vezes, devo conceder, em “autonomia” no sentido de que o homem deve “dar a si mesmo a lei universal”; mas essa ideia de autonomia, inventada por Kant, perdeu a legitimidade com a crise de fundamentação da modernidade, e prevalece cada vez mais a versão Nietzschiana de autonomia, segundo a qual a vontade de poder e a decisão individual criam “ex nihilo” a lei que o homem dará a si mesmo. A “liberdade” no mundo pós-moderno é a liberdade Nietzschiana.

Converteu-se, portanto, a liberdade, em liberdade para comprar e consumir produtos, liberdade para não ter posicionamentos políticos definidos, liberdade de criar a própria religião, ou de pertencer a todas e a nenhuma, de não ser de ninguém, para ser de todo mundo e todo mundo ser meu também. Campeãs nisso são as empresas de telefonia, garantindo que, se comprarmos seus produtos, teremos muito mais liberdade e viveremos num mundo “sem fronteiras”.

Com a necessidade de abrir espaços para o exercício da liberdade arbitrária, o corpo humano tornou-se a vítima imediata. Pois o corpo é o que está mais próximo do eu. Instrumentalizar o corpo para aumentar a liberdade de escolha interessa ao eu, quando este anseia por livrar-se de limitações rígidas, e interessa ao sistema, que precisa ampliar seus mercados. É claro que uma ética sexual que limite a exploração do prazer por meio do corpo constituirá um sério obstáculo ao crescimento da liberdade humana, desse ponto de vista libertário.

E foi assim que teve início a grilagem sexual e o loteamento comercial do corpo, da filosofia moderna com seu incontrolável impulso libertário-prometeico, para a dissolução de todos os valores, hábitos e estruturas sociais que impliquem o cerceamento da liberdade do prazer na sociedade contemporânea.

Daí o corpo vai virando esse campo de experimentação da liberdade: ele deve ser pintado, tatuado, cirurgicamente modificado; perfurado, dobrado, bombado, e cyborgificado; sua cor pode ser modificada, e todos os seus buracos deveriam ser experimentados, mas sempre ao gosto do cliente; se minha alma tem um sexo diferente, então o corpo será trocado; se ainda não pode ser trocado, será mutilado; se está grávido de um feto indesejado, será libertado; pois há que se preservar o absoluto e arbitrário domínio do indivíduo sobre o seu próprio corpo.

Civilizar a desonra

Ora, muitos dirão que isso é uma apropriação mais madura do corpo; que as pessoas hoje em dia têm mais liberdade para se expressar com o corpo e possuí-lo. Eu digo que não. Só um espírito vencido aceitaria explicação tão sonsa.

Pois é claro como o dia que todos esses usos do corpo são instrumentais. São idênticos, no conjunto, aos usos que fazemos da natureza, derrubando florestas naturais e plantando capim ou reflorestando com eucaliptos; ou queimando combustíveis fósseis em excesso, destruindo nascentes e emporcalhando os litorais. Façamos um exercício de autocrítica: a sociedade autoconsciente pode ser comparada a uma “alma”, incorporada em um “corpo” biofísico, que é a biosfera. Ora, não é verdade que, para aumentar a liberdade humana (de consumir produtos, basicamente), estamos estuprando o meio ambiente? Não há uma relação interna entre o impulso libertário da cultura moderna e a violência?

Pois então compreendamos, e vou dizer sem meias palavras, o que está por trás da presente cultura da “pegação”, da liberação sexual, da criminalização da crítica ao homossexualismo, do aborto, do poliamorismo, e de coisas ainda mais estranhas: nada menos que o estupro do corpo, perpetrado pelo próprio “self”. A violência do eu externo pelo eu interno.

O estupro é a violência de fonte biológica; a violência para assegurar o prazer, o sentido de domínio, e a propagação da carga genética. No mundo humano, o estupro literal é a manifestação sexual de uma pulsão de violência que se manifesta em outros níveis, como no do Estado totalitário, da intolerância religiosa, da guerra (se você duvida, preste atenção nesses grafites de banheiros universitários: porque a violência e o insulto aparecem associados ao sexo?). É claro que a sociedade moderna precisaria canalizar essas forças de algum modo -- e isso é o que está por trás do discurso sobre “aumento da liberdade” dos modernos. O fato é que a forma mais eficiente de manipulação técnica do desejo humano encontrada pelos modernos foi a cultura do consumo, da qual a liberação sexual é uma parte essencial.

Não seria aceitável, no entanto, que as pessoas se estuprassem mutuamente com uso direto de violência. Seria preciso, para canalizar os impulsos de prazer e violência dos indivíduos, facilitar o acesso ao corpo (a natureza a ser explorada e consumida) e modificar a vontade moral dos indivíduos. Enfim: não dissolver o desejo do estupro (de usar sexualmente o outro), mas dissolver a resistência do indivíduo à instrumentalização do seu corpo. Em outras palavras, seria necessário civilizar essa instrumentalização do corpo, civilizar o estupro. Mas como é que isso se pode implementar?

É aqui que chegamos ao verdadeiro coração do problema.

Ora, se estupro o meu corpo, não posso ter uma relação demasiado íntima com ele. Não posso tratá-lo como o meu eu, ou como parte do meu eu, se vou explorá-lo indiscriminadamente. A solução é tratar o próprio corpo como expressão apenas contingente do eu, desonrando-o. Assim o indivíduo poderá dar livremente o seu corpo, sem entregar a sua alma juntamente com ele. Homens e mulheres podem oferecer seus corpos, instrumentalizá-los, e utilizá-los como quiserem; não há mais perversão sexual, pois não se pode julgar o caráter de alguém pela forma como ele faz sexo; pois o caráter do indivíduo -- acredita-se -- nada tem que ver com o seu uso do corpo. Enfim: o corpo não sou eu; o corpo é “meu”. A desonra é, assim, a morte espiritual; é a entrega do corpo ao fogo.

Note-se a relação e distinção entre o estupro e a desonra: esta última tem a ver com o símbolo. Desonra-se uma nação pisando-se a sua bandeira, que é o seu símbolo. Desonra-se igualmente a pessoa (o interno) banalizando o seu símbolo visível (o externo).

Assim como, para abusar da natureza, o homem moderno precisou construir uma imagem da cultura como algo “fora” da natureza, como se ele estivesse muito além dela, o libertinismo sexual se torna psicologicamente viável pelo desligamento moral entre eu e corpo. Esse desligamento é evidente no discurso de que o uso sexual dado ao corpo não é importante, desde que traga prazer e aumente a liberdade do indivíduo.

Ocorre, no entanto, que tal separação não pode ser feita. Há um atraso entre interno e externo, mas não uma separação absoluta. Em última instância, aquilo que o homem faz com o seu corpo, faz a si mesmo. O corpo é o símbolo visível do coração. Portanto, a separação psicológica feita pelo homem ao usar seu corpo como instrumento externo de prazer é uma separação ilusória, completamente falsa. O atraso entre o interno e o externo torna possível que o interno estupre a si mesmo, como se não fosse a si mesmo, mas a um outro. Mas o outro (o corpo) ainda é o si mesmo. Ao estuprar o seu corpo, o homem estupra a si mesmo. Ao desonrar o seu corpo, o homem não pode amar a si mesmo.

Além disso, na medida em que estupra a si mesmo o indivíduo não tem mais porque resistir ao estupro do outro; se um corpo humano é instrumentalizado, todos o são igualmente por um princípio de reciprocidade (exatamente da mesma forma como o amor a mim mesmo e o amor ao próximo estão unidos). A afirmação da liberdade humana passa a equivaler assim à instrumentalização generalizada do corpo, com o desenvolvimento de uma nova ética sexual pública (sim, exatamente como o faz atualmente o Estado brasileiro), que pretende plausibilizar a distinção entre pessoa e seu corpo sexual policiando questionamentos públicos dessa distinção (do que a PLC 122/06 é apenas um exemplo). A ética sexual secular é a ética da desonra.

Impureza sexual e desonra na Bíblia
Ora, o que descrevemos acima é o que Paulo diz em Romanos 1. 24-27: que os homens rejeitaram o conhecimento de Deus e foram por isso entregues às concupiscências do seu coração, “para desonrarem os seus corpos entre si”, mudando o modo de suas relações íntimas, praticando coisas contra a natureza etc. Não é por acaso que o apóstolo associa a concupiscência à desonra do próprio corpo e do corpo do outro. É que a concupiscência leva ao desamor; cessa o amor por mim mesmo e pelo meu próximo, e o fim do amor aparece em nossa relação com o símbolo da alma, que é o corpo. A impureza sexual traz dentro de si o desprezo do indivíduo por si mesmo e pelo seu próximo.

É Paulo quem diz de novo: “Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo” (1Co 6.18).

Graças a Deus por um verso tão claro: a impureza sexual é o pecado do homem contra si mesmo; é a contradição, a desonra do próprio corpo, que deixa de ser tratado como o santuário de Deus, destinado à ressurreição dos mortos. Pois a impureza trata o corpo como um instrumento descartável, como alguns crentes helenistas faziam: “Os alimentos são para o estômago, e o estômago para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele”. Em outras palavras, “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Não há futuro para o corpo; ele é só uma ferramenta temporária. Por isso alguns dos Coríntios até perderam a fé na ressurreição (1Co 15). Por trás da desonra do corpo está o desespero.

Paulo prossegue, afirmando que aquele que se une à prostituta é uma só carne com ela, e o que se une ao Senhor é um espírito com ele; e que não podemos tornar os membros de Cristo membros de uma meretriz. Ora, tudo isso implica que o corpo não pode ser concebido à parte do eu. O seu destino é o mesmo do eu; as suas relações são as mesmas do eu. Se dou meu corpo à meretriz, dei-lhe também minha alma; se dou a Cristo a minha alma, dei-lhe também o meu corpo. Para Paulo, o hebreu, era inconcebível imaginar que o corpo pudesse ser empregado de qualquer jeito, impunemente, segundo o delírio dos gnósticos. Amar a Deus, amar ao próximo, amar a si -- tudo isso implica honrar o corpo: “Que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é o vingador” (1Ts 4.4-6).

O ensino não permanece consistente? O corpo deve ser honrado; ceder à lascívia é desonra; usar o corpo do outro é desonrá-lo, defraudá-lo reduzindo seu valor. Desonrar o corpo é matar e morrer; é tentar separar o interno e o externo, mas destruir ambos.

Da desonra à consistência através da esperança

O que me impressiona é que o remédio de Paulo para a impureza-desonra do corpo seja escatológico. Ele poderia ter prescrito chás, banhos frios, ou quem sabe uma boa terapia, mas em vez disso lança sobre os pobres fornicadores de Corinto um petardo teológico: “O corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder” (1Co 6.14).

De que modo a ressurreição é uma resposta? Em primeiro lugar, ela é o inverso da desonra do corpo; é a honraria absoluta. Ela significa que o corpo tem um valor singular e eterno -- pois se destina ao próprio Senhor. A doutrina da ressurreição nos diz que o prêmio máximo para o eu é a vitalidade eterna do seu corpo; que a vida espiritual que habita no homem interior finalmente brilhará -- embora, como dissemos, com algum atraso -- através do homem exterior. Portanto, vale a pena amar o corpo e honrá-lo.

Ora, isso é o que chamamos antes de consistência ou integridade. No núcleo da ética sexual cristã deve estar a seguinte doutrina: que o corpo não deve ser o que a alma não pode ser. O corpo e a alma devem estar juntos, e o corpo deve se tornar transparente ao espírito. Ou seja, não posso ser no corpo o que não puder ser no coração. Meu corpo deve se tornar translúcido em minhas relações com o meu próximo. Minha face não pode ser uma máscara a ocultar minhas intenções, mas uma janela para meu homem interior; meu corpo deve ser amado e honrado -- seja ele alto ou baixo, novo ou velho, bonito ou feio, gordo ou magro -- porque o seu valor é o valor da minha alma. Ele é o símbolo, a parte visível daquilo que tem valor incondicional. Devo unir-me ao meu corpo, de modo que o meu coração fique à flor da pele.
Por isso, não posso me relacionar sexualmente com alguém se não puder entregar a minha alma na mesma proporção. Se amo a Deus, amo a mim mesmo. Se amo a mim mesmo, amo ao meu corpo, que é a superfície visível do que eu amo. E se compreendo a natureza do corpo, compreendo que o amor ao próximo é mediado pela sacralidade do seu corpo, e que o seu amor por mim é mediado pela sacralidade do meu próprio corpo. Quem quer instrumentalizar o corpo do outro não o ama, nem se ama; quem aceita ser desonrado pelo outro também não se ama.

E a esperança? É aquilo que abre meus olhos para o valor do meu corpo, e para o desejo de ser consistente.

Se alguém não consegue reconhecer sua própria dignidade, nem pode ver valor em ser consistente, é porque lhe falta a esperança. Ele só vê a morte diante de si. Todo homem que defende a libertinagem sexual só vê a morte diante de si, pois é o desespero o que arranca do homem a integridade e o faz entregar o corpo ao prazer impuro.

Por isso Paulo deu aquela resposta escatológica: “Lembre-se da ressurreição”! Ela é a certeza de que o seu corpo tem valor e deve ser amado, e que o seu corpo e a sua alma não devem ser separados, pois foram feitos um para o outro -- ou melhor, eles foram feitos para ser um só.

E que outra coisa poderia ser a “pureza sexual”?

Não é essa a pureza das crianças?

FONTE: guilhermedecarvalho.blogspot.com

domingo, 13 de dezembro de 2009

Impureza Sexual: Tem Cura?

Outro dia tive uma conversa estimulante mas também algo abaladora com um pastor, no final de uma palestra sobre educação. Na palestra eu havia mencionado um princípio do pensamento reformacional - a idéia de que não há contradições estruturais na ordem criada. Assim não há contradição essencial entre, por exemplo, a esfera da justiça e a da moral, ou entre a esfera estética e a esfera da fé, e assim por diante. Mas uma das minhas alegações fez acender luzinhas no painel dos presentes, incluindo no do amigo pastor: a de que não haveria contradição estrutural entre as esferas biológica e psíquica e a esfera moral.

Ao término da exposição ele reagiu prontamente com uma questão muitíssimo prática: a tentação sexual: "há pouco eu aconselhei um homem envolvido em adultério. O casal está aos poucos se refazendo, e a esposa está disposta a perdoar; quanto ao marido, ele deixou claro para mim que amava a sua esposa. Ele simplesmente foi fraco e caiu. Não lhe faltava amor; faltava-lhe forças para resistir à tentação sexual. Mas isso não implica em uma contradição entre o nível biológico e o nível moral?"

Sem dúvida, as impressões do pastor refletiam um lugar-comum da imaginação evangélica: a tentação seria uma fraqueza interna ao campo sexual, a ser vencida por meio de uma resistência ao desejo sexual, seja por uma intervenção diretamente biológica (arrancar os olhos, ou outra coisa, eventualmente) ou por uma equilibração psíquica. De um modo ou de outro, espera-se que o desejo sexual distorcido seja controlado. Mas se, enfim, perdemos o controle, é porque falta disciplina no trato com o desejo. Precisamos disciplinar o corpo, basicamente; dobrá-lo pela supressão do desejo.

Pois bem; essa é uma das mais falsas verdades que os cristãos gostamos de espalhar. É uma verdade, sim, que o corpo deve ser disciplinado, e o desejo controlado; não é o "domínio próprio" um fruto do Espírito? Entretanto, é uma baita falsidade que possamos controlar os desejos assim mecanicamente, ou mesmo "cirurgicamente".

Imagine o mundo sem o pecado

Façamos alguns exercícios de imaginação cristã; imaginemos o mundo sem pecado. Nesse paraíso, Adão tem desejos de todos os tipos, incluindo os desejos sexuais. Esses desejos tem uma base instintiva biopsíquica, e são acionados automaticamente por sinais óbvios: a forma do corpo da fêmea, certas cores, certos cheiros, etc. Adão está sujeito a tais estímulos exatamente como qualquer outro macho de sua espécie, sendo que sua sexualidade, nesse nível, tem forte analogia com a de outros animais.

Mas Adão não é apenas um animal, feito de pó como todos os outros. Adão é o pó com o sopro divino, é o portador da imagem de Deus. De algum modo essa imagem está impressa no mesmo pó do qual as outras criaturas foram feitas, e entre as características particulares que Adão apresenta está a sua função moral. Adão é capaz de um altruísmo perfeito, muito além do altruísmo de cães e golfinhos. Ele é capaz de amar de forma pura, reconhecendo na forma da fêmea não um corpo adequado ao acasalamento, mas a superfície material de uma pessoa; não como mero objeto, mas como evento dotado de profundidade pessoal, como um Tu que precisa ser amado incondicionalmente por meio do trato que se dispensará ao seu corpo.

Teríamos aqui uma contradição estrutural? Haveria aqui um choque da dinâmica biopsíquica contra a dinâmica moral? Penso que temos excelentes razões para crer que não; não apenas razões teológicas (tudo o que Deus criou é bom) mas também filosóficas. Vou lançar mão aqui da noção de sobredeterminação utilizada em ontologia (a teoria sobre a natureza da realidade). O conceito não é muito complicado, mas exige alguma atenção.

Sobredeterminações ontológicas

A idéia de sobredeterminação ontológica é a idéia de que a dinâmica própria de um nível superior da realidade não contradiz, mas sobredetermina a dinâmica de um nível inferior. Um exemplo clássico disso é a relação entre a dinâmica biótica seus processos químicos subjacentes. A matéria, como se sabe, se associa ou se desassocia segundo leis físico-químicas, e essas leis por si mesmas não produzem seres vivos. Por outro lado, seres vivos apresentam processos exclusivos em relação aos seres inanimados; processos como a reprodução, o metabolismo, e a conservação de informação complexa.

Naturalmente, para realizar todos estes processos, os seres vivos dependem de processos físico-químicos, que seguem leis físico-químicas. Mas se as moléculas que compõe a estrutura de uma célula viva apenas obedecessem a leis físico-químicas, ela se desfaria. As moléculas da célula obedecem às leis físico-químicas dentro de restrições e especificações impostas pela dinâmica biológica do organismo, segundo modos absolutamente improváveis, de um ponto de vista puramente químico. Quando as moléculas da célula seguem apenas as leis físico-químicas, sem nenhum controle biótico, ela se desfaz - porque, obviamente, ela está morta. Dizemos, portanto, que há na célula uma sobredeterminação das leis bióticas sobre as leis físicas.

A sobredeterminação moral

Ora, o mesmo vale para outros níveis da realidade. Há uma sobredeterminação psíquica sobre os processos biológicos do ser humano; e uma sobredeterminação sociológica sobre processos psíquicos; e no final da escala, uma sobredeterminação religiosa e moral sobre todos os níveis estruturais do ser humano. As normas de um nível superior de função humana não contradizem as normas do nível inferior, mas lhe dão formas particulares, habilitando-as a existirem no nível superior. Pense nas moléculas da célula: pela "obediência" às leis bióticas, elas deixam de ser apenas "matéria", e se tornam parte de um ser vivo.

Ora, o que queremos dizer com isso é que é preciso ser um animal para ser um homem; no entanto essa é uma condição "necessária mas não suficiente". A vontade moral e a capacidade humana de amar opera por meio de sua estrutura sexual, mas a transcende, elevando o corpo do homem à condição de espírito, de pessoa. Mas assim como a célula pode morrer entregando suas moléculas às leis brutas do mundo físico-químico, o homem pode morrer moralmente entregando o seu corpo aos estímulos biopsíquicos. O humano no homem pode ser negado e perdido por falta de vontade.

Onde se localiza, então, a falha da impureza sexual? Não no nível sexual, seja em seus aspecto biológico ou psíquico, mas no nível moral. Quando pecamos por impureza sexual, não pecamos por excesso de sexualidade, por excesso de desejo sexual, ou por excesso de estímulo sexual (primariamente falando), mas por falta, por ausência. E aqui estamos simplesmente sendo Agostinianos: o pecado é a privação do bem. O problema da impureza é a ausência moral, não o excesso sexual.

Um Truísmo?

Estaríamos nós dizendo o óbvio? Sim e não. Sim porque isso é simplesmente o que as Escrituras e a tradição ensinam. Não porque isso não é de modo algum a teologia moral popular no meio cristão. Pensemos na conversa com o pastor, que mencionamos acima. Ele afirmou com grande convicção que o marido traidor, no fundo, amava a sua esposa. Ele caiu por ser fraco, não por falhar no amor.

À luz do que acabamos de considerar, no entanto, eu diria que não. Com certeza, o marido traidor amava a sua esposa; mas ele não a amava o suficiente. Na verdade, ele não caiu por fraqueza sexual (ou excesso de desejo sexual), mas por falta de amor. Não foi isso o que nos disse o Apóstolo? "O amor não faz mal ao próximo". Jesus não caiu e não cairia nessa tentação, não porque não tivesse os mesmos desejos sexuais, mas porque ele saberia olhar para cada pessoa envolvida com amor de verdade.

Sejamos específicos: aquele que adultera deixa de amar à sua esposa e de considerá-la como pessoa de valor infinito. E deixa também de amar à sua "amante", tratando-a egoisticamente. Aquele que procura a prostituição, seja ela real ou virtual, não ama aqueles que estão escravizados ao mercado sexual, e tampouco ama a si mesmo; pois se sujeita a ser manipulado e explorado por indivíduos que não tem um pingo de respeito ou preocupação com o seu destino, desde que esvaziem os seus bolsos.

De modo algum eu pretendo dizer com este argumento que não exista o vício sexual; mas sustento que até mesmo o vício tem os seus começos na falta de amor genuíno pelo outro. Todo aquele que sofre com a impureza sexual deve saber, e dizer para si mesmo claramente, que ele não é um pobre coitado, aprisionado por impulsos sexuais e por uma dinâmica biopsíquica ultimamente má inventada por um Criador maldoso. Mil vezes não. A concupiscência existe, sim; mas é uma erva danina. Ela só cresce quando o amor está ausente. E quando ele está presente, alguma coisa forçosamente mudará. É por isso que Santo Agostinho pôde declarar com tanta confiança: "ama e faze o que quiseres".

Problemas oftalmológicos

De acordo com Jesus, a impureza é uma doença dos olhos, de certo modo; um problema oftalmológico, mas altamente infeccioso, a ponto de ele receitar a amputação: "se o teu olho de faz tropeçar, arranca-o". Mas Jesus sabia o que dizia. Ele deixou claro que o que contamina o homem é o que sai do seu coração, não o que entra pela sua boca. A doutrina da "amputação" é uma referência metafórica à mudança dos olhos.

O ser humano tem sérios problemas com os olhos. E eu quero chamar a atenção dos meus companheiros, os homens. Recentemente recebeu alguma cobertura o resultado de uma pesquisa feita na universidade de Princeton, sobre os padrões de resposta neurológica de homens diante de imagens de mulheres. O que Susan Fiske, a diretora da pesquisa descobriu, é que as imagens de mulheres com teor erótico ou sensual, e especialmente as imagens de partes específicas do corpo sem a revelação da face, despertam as mesmas áreas do cérebro masculino tipicamente associadas ao uso de ferramentas e objetos inanimados, ao mesmo tempo em que desativam as partes associadas às relações sociais.

Ou seja, de algum modo a nossa sociedade desenvolveu uma forma de desassociar o interesse sexual da sensibilidade moral a partir da nossa forma de olhar as mulheres. Fomos literalmente submetidos a um maciço treinamento pavloviano para nos acostumarmos a olhar mulheres como objetos, como superfícies materiais sem profundidade pessoal. Nas palavras de Susan Fiske, "eles não as estão tratando como seres humanos tridimensionais".

Isso é o que acontece quando suprimimos a nossa intuição moral e deixamos de ver pessoas diante de nós. Restam apenas corpos impessoais.

Olhar com Amor

Como, então, o amor se manifesta, no que tange à impureza sexual? De novo quero apelar para Paulo: "Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza." (1Tm 5.1).

Paulo sabia muito bem o que estava dizendo. Ninguém pode alegar (a não ser, é claro, em casos evidentemente patológicos) que não sabe o que significa olhar para uma mulher linda e não cobiçar. Basta ter mãe ou irmã - ou filha, eu diria. Todos nós sabemos muito bem o que é olhar alguém que, biologicamente falando, poderia ser apenas um objeto sexual, mas simplesmente não sentir interesse sexual por causa do amor, de uma relação de respeito e cuidado em que o outro é verdadeiramente reconhecido como pessoa e valorizado incondicionalmente. O amor faz a gente ter um olhar diferente.

Como é que o jovem Timóteo olharia para uma moça com "toda a pureza"? Olhando-a como se fosse uma irmã de sangue. Paulo nos convida aqui a usar a imaginação, e considerar as moças como se fossem irmãs. Ou seja, tomando-as como pessoas, não como objetos. Isso demandará uma revolução, nos dias de hoje, em que somos ensinados a enxergar os corpos humanos como bonecos de plástico. Jovens e adultos, homens e mulheres, olhando para seus pares, amigos e semelhantes como pessoas - não como nacos de carne, como pernas, bundas e peitos, mas como gente, como humanos com faces, como superfícies físicas de pessoas reais.

Honestamente, preciso dizer a todos os meus companheiros pecadores que não há uma cura completa para essas doenças do olhar, até que a nossa ressurreição seja consumada. Mas há o que Schaeffer chamava de "cura substancial". A impureza no olhar tem cura de verdade, embora seja um caminho difícil; pois amar de verdade é ainda mais difícil que reprimir desejos.

Mas, enfim, não há vitória na "pureza" obtida à custa de repressão do desejo. É inútil congelar uma célula morta para que ela não se desfaça. A única solução genuína e de longo prazo para o problema da impureza sexual é ter amor nos olhos.

Parodiando Santo Agostinho, eu diria: "ama e olha como quiseres".


FONTE: guilhermedecarvalho.blogspot.com

sábado, 12 de dezembro de 2009

Covardes, calados.

É impressionante o número de pessoas que defende os profetas da prosperidade. Basta você postar algo sobre eles e o batalhão ultra fundamentalista entra em ação. Escrevi sobe o Malafaia e seus milhões arrecadados com a venda da Bíblia de R$900,00, neguinho só faltou me matar.

As defesas são as mais sem contexto que eles poderiam arrumar. "Não toque no ungido hein", "Cuidado com a língua", "não podemos criticar o ministério alheio", teve até gente falando que esses caras ajudam a gente a exercitar nossa fé!

Por favor, desculpem-me a maioria esmagadora dos leitores do blog que não precisaria ler isso, mas por conta da enxurrada de besteiras que tenho visto preciso me manifestar. Posso até estar correndo o risco de perder leitores com essa declaração, mas creio que João Batista, o apóstolo Paulo, Elias o profeta fariam o mesmo, sem medo de perder meia dúzia de seguidores. Prefiro fidelizar quem zela pelo evangelho puro, do que ficar agradando um bando de covardes que não tem o mínimo crivo bíblico para enxergar o mal irreparável que esses caras que se dizem pastores e missionários fizeram a igreja brasileira.

Portanto, pra você que defende a venda da Bíblia da unção financeira, pra você que adora a campanha da fogueira santa, pra você que acha normal um bando de pastores se reunir para bolar estratégias para limpar o bolso do povo, contando dinheiro em reuniões e rindo da cara do pobre, pra você que apoia até morrer gente criminosa que esconde dinheiro em Bíblias pra não ser flagrado pela federal e muitas outras peripécias vai aqui meu desabafo: "Bando de covardes é o que vocês são. Um grande bando de covardes."

Não me venham dizer frases como: "Seu coração está cheio de rancor" e etc, porque estou plenamente calmo e livre para escrever o que estou escrevendo, apenas percebi que vocês que são alcoviteiros desses aí, precisam acordar e enxergar que não dá mais pra investir em quem não prega o evangelho do Reino, a esses o póstolo Paulo escreveu o seguinte: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema." e prossegue no verso seguinte dizendo: "Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema."

Se algum de vocês ainda tem dúvida de que esses caras estão pregando outro evangelho, me desculpem mas está faltando leitura bíblica pra esse. E façam um favor ao mundo, calem a boca! Vocês estão trocando a maravilhosa oportunidade de ficarem calados pela engenhosa arte de falar besteiras sem tamanho. Então, façam um favor a humanidade, fiquem quietos.

E no mais, tudo na mais santa paz!

Marcio de Souza [marciodesouza.blogspot.com]

domingo, 6 de dezembro de 2009

Ninguém aguenta gente chata!

Por Ariovaldo Jr ⋅ 9 de novembro de 2009

Imagine um culto com todas as suas firulas. A variabilidade daquilo que as pessoas são capazes de imaginar não é algo muito surpreendente. E o que eu me pergunto constantemente é: DE QUEM É A CULPA?

Hoje, aproveitando que não estava fazendo nada, fiz alguns testes de vídeo, sozinho em casa. Estou tentando gravar algumas idéias com imagens por que já percebi que há um público cada vez maior nesta nova geração que é avesso à leitura de qualquer coisa com mais de 140 caracteres. Como eu não levo jeito pra ser escritor de provérbios, me sinto na obrigação de rebolar um pouco para encontrar um canal viável de comunicação.

A maior parte das pessoas odeia ouvir ou ver a si mesmo em algum tipo de gravação. Mas este recurso pode ser revelador para aqueles que pretendem descobrir porque tem dificuldade de encontrar pessoas que se sintam motivadas com suas conversas mais triviais.

Pode-se culpar um inexistente “espírito de desatenção” pela falta de atenção das pessoas em uma palestra. Pode-se culpar o diabo em pessoa. Mas tudo isto é tampar o sol com a peneira. É preciso um pouco de humildade para perceber que todos os elementos da vivência coletiva devem necessariamente ser inspiradores.

Não importa ter bons músicos numa igreja. Nem tampouco ser o “ás” da oratória, hermenêutica e retórica. Nas ruas, onde as pessoas de verdade vivem, o carisma fala mais alto que qualquer outra habilidade.

Se não há quem ouça a pregação, a culpa é sua!
Se o evangelho em sua vida está desinteressante, então transforme-se.
Ninguém aguenta gente chata. Ninguém aguenta mais você.

Quero todos os dias de minha vida um culto inspirador, com adoração inspiradora, palavras inspiradoras e SINCERIDADE que inspire sem a necessidade de explicações.

sábado, 5 de dezembro de 2009

PARA QUANDO ESTIVERES NA CASA DE ORAÇÃO

Gióia Júnior

Fecha agora os lábios teus
Para os vários interesses-
Nesta casa habita Deus,
Principia tuas preces...

Haja um silêncio profundo,
Nova luz fulgura aqui...
Fecha os olhos para o mundo,
Vê que Deus reside em ti...

São preciosos os momentos
Nesse lar de paz e amor...
Doma os torpes pensamentos
Que te afastam do Senhor.

Que solene majestade
Nesta casa de oração:
A clareza da verdade
E a verdade do perdão!

Ouve a voz de Deus, imensa,
Poderosa, fica em pé...
Abre os olhos – para a crença
E os ouvidos - para a fé!

Do passado esquece tudo,
Vive a santa devoção...
Se Deus fala – fica mudo,
Se Ele escuta – fala então!!!

O MEDO É A FÉ NO AZAR!

O medo é um poder dos maiores que existem…

Sim, o medo opera como a fé em antítese...

Assim como pela fé todas as coisas se organizam em nosso favor, pelo medo todas as coisas se organizam de modo negativo contra nós...

Azar é o processo que o medo deflagra...

Sim, o azar é o medo em processo e sistematização...

Mais: o azar é a fé do medo...

Por isto se diz: “Aquilo que eu mais temia isso mesmo me sobreveio!”

Uma mente tomada de medo é uma usina de fantasmas, demônios e toda sorte de liberação de energia psíquica auto-destrutiva...

Poltergeist [Poltergeist - Wikipédia, a enciclopédia livre] é apenas uma manifestação do medo...

Sim, o medo humano é capaz de matar e de morrer...

Quem tem medo ainda não foi aperfeiçoado no amor, pois, no verdadeiro amor não existe medo...

O amor inocenta a vida em relação ao poder do medo!

Mas aquele que teme..., que anda culpado..., que aceitou a terror como vereda..., que deixou o medo ser o guia de sua alma... — esse entrou no túnel do azares e dos poderes auto-destrutivos...

Quando a mente entra no terror até Jesus vira fantasma!...

“É um fantasma!” — gritou Pedro no meio do medo...

Numa casa, quando há uma alma entregue às forças do azar, do medo sistêmico, e da culpa neurótica, o resultado sempre é que as coisas são jogadas pelos ares... ainda que não haja nenhum Poltergeist...

Sim, de súbito a vida começa a se tornar um caos, e tudo quanto se temia nos sobrevém...

Aquele, porém, que anda em fé, e que não teme mais nada, e que de nada se ocupa quanto ao morrer ou quanto ao encontro com a dor..., esse caminha livre, e, estranhamente, desse também os males fogem...

Creia nisto!

Não inventei nada...

Este é também ensino do Evangelho!



Nele, em Quem todo medo deve morrer,



Caio

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Minoria Diferente


“E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3)

E fácil ser honesto no mundo programado para a desonestidade? É fácil manter-se puro, num mundo poluído pela imoralidade e arrasado por filosofias existencialistas, que pregam e ensinam que tudo o que conta na vida é o “aqui e agora”?

A revista Vogue aumentou consideravelmente o número de seus leitores depois de uma grande campanha publicitária que declara: “Vogue é lida pela esmagadora minoria”. A mensagem transmitia a idéia de que o importante não era o número de leitores, mas a qualidades destes. Ser minoria não pe problema se a minoria se tornar esmagadora.

O que Jesus estava querendo dizer em Sua oração intercessória, é justamente que Seu povo sempre seria a minoria, mas devia ser uma minoria esmagadora, capaz de revolucionar o mundo, Uma minoria que não fosse contaminada, mas que “contaminasse”, que não fosse influenciada, mais que influenciasse.

Repetidas vezes Ele afirmou essa mensagem ao usar as figuras do sal, que sendo a minoria em meio aos elementos que formam uma comida, é capaz de mudar completamente o sabor dela. Outra vez usou a figura da luz, que sendo apenas um raio insignificante, pode romper o poder das trevas que reinam num quarto escuro.

A esmagadora minoria!

Não Te peço que os tires do mundo, mas que os mantenhas sempre “esmagadora minoria”, capaz de refletir o Meu caráter para os homens.
Todos conhecem a oração do grande pregador Carlos Spurgeon: “Dá-me doze homens, homens importunos, amantes de almas, que não temam coisa alguma senão o pecado, e não amem coisa alguma senão a Deus, e abalarei Londres de extremo a extremo”.

A esmagadora minoria de Gideão foi capaz de derrotar o inimigo. A esmagadora minoria dos cristãos primitivos foi capaz de levar o evangelho para todos os cantos do mundo conhecido daquele tempo.

Não tenha medo de formar parte da minoria, mas tenha certeza de que ela é “esmagadora”. Não tenha medo de que todos os seus colegas na faculdade saibam que você não fuma, não bebe e não usa drogas porque ama a Jesus. Não tenha vergonha de que todos os seus colegas de trabalho saibam que você não pode ter “aventuras” imorais porque ama a Jesus. Não sinta vergonha de ser honesto, de defender a virtude, de valorizar princípios, mesmo vivendo num mundo que o faz sentir-se na contramão da vida.

Faça de Jesus o centro de sua vida e permita que Ele viva em você as grandes virtudes do evangelho, sem falso moralismo, mas de maneira natural e autêntica.

FONTE: arrobajunior.com

A "igreja" que matou Jesus



A igreja que matou Jesus preferiu conviver com um marginal e assassino do que com Jesus.
A igreja que matou Jesus também matou os profetas.
A igreja que matou Jesus era religiosa.
A igreja que matou Jesus convivia com Ele, mas não o conhecia.
A igreja que matou Jesus era hipócrita.
A igreja que matou Jesus fazia do templo e da Palavra, comércio.
A igreja que matou Jesus envolveu-se com a política da época.
Na igreja que matou Jesus havia podres e sujeiras.
Na igreja que matou Jesus a última palavra era dos poderosos, os santos sumo sacerdotes.
Na igreja que matou Jesus a comunhão era fingida. O amor, discursivo.

Os religiosos da igreja que matou Jesus diziam-se santos, vestiam-se adequadamente, davam o dízimo, mas estavam prontos a apedrejar a pecadora.
A igreja que matou Jesus foi a igreja dos cidadãos da alta sociedade judaica, mas se assegurou de manter os marginalizados à margem.
A igreja que matou Jesus não frutificava.
Na igreja que matou Jesus havia muita reverência – aos homens – , mas poucos homens-referência.
Na igreja que matou Jesus vivia-se uma verdade inventada, dogmática.
Na igreja que matou Jesus a misericórdia tinha preço “$”.
A igreja que matou Jesus cumpria a Lei, mas desconhecia a Graça.
A igreja que matou Jesus ignorava Sua voz, mas orava em voz alta.
A igreja que matou Jesus tinha tanta convicção em suas verdades que o mataram.
A igreja que matou Jesus nem chegou a ser chamada de Igreja, mas ainda existe.
Você a conhece?

FONTE: ichtusgate.wordpress.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

WALK IN THEIR SHOES



Cerca de 100 milhões de cristãos são perseguidos só por andarem nos passos de Cristo. Apesar disso, a maioria das histórias é esquecida ou até ignorada.

O underground quer mudar essa realidade. WALK IN THEIR SHOES* é um movimento mundial para apresentar a realidade da Igreja Perseguida para milhares de jovens, e ajudá-los a se envolver com ela.

COMO SERIA ESTAR NO LUGAR DELES?

Uma vez encontramos Maaria, uma cristã paquistanesa. Ela tem um blog em inglês, no qual escreve sobre como é ser cristão em um país fechado ao evangelho (se quiser ler, clique aqui).

Contamos para Maaria sobre o WALK IN THEIR SHOES. Ela ficou maravilhada e fez a seguinte analogia: muitas vezes, os sapatos dos perseguidos estão sujos, rasgados. Às vezes, eles nem têm sapatos. Ou seja: eles estão sofrendo.

Colocar-se no lugar deles é sofrer junto, é sentir o que eles sentem, é se importar. Não é ignorar ou omitir a realidade por achar que seja muito dura ou triste. A Maaria nos pediu: “Por favor, contem para as igrejas em seus países o que realmente nós enfrentamos”.

PRONTO PARA DAR O PRIMEIRO PASSO?

Para concretizar nosso desejo de estar ao lado dos perseguidos, o primeiro passo será patrocinar um projeto da Portas Abertas Internacional junto a jovens universitários no Egito. O custo do projeto é de R$ 9.410,00 e a realização depende exclusivamente das ofertas arrecadadas entre os jovens brasileiros.

Mas não para por aí. Quando conseguirmos alcançar esse valor e ajudar os jovens no Egito, partiremos para o próximo projeto, que beneficiará irmãos de outros países. Existem muitos cristãos precisando de ajuda, e vamos fazer nossa parte.

Contribuindo para a campanha, você receberá um par de cadarços com as palavras WALK IN THEIR SHOES. Por quê? Justamente para que sempre que você olhe para os cadarços, se lembre dos cristãos perseguidos e se coloque no lugar deles, como se estivesse caminhando nos mesmos passos, passando pelos mesmos lugares e situações, lembrando-se de orar por eles e falar deles.

Faça sua doação aqui.

Para mais informações entre em contato com wits@portasabertas.org.br

* Essa expressão significa “colocar-se no lugar de outra pessoa”. O nome da campanha está em inglês por se tratar de uma campanha internacional.