quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AS ESTAÇÕES DO CAMINHO NÃO PODEM VIRAR “ESTACIONAMENTOS”?

From: AS ESTAÇÕES DO CAMINHO NÃO PODEM VIRAR “ESTACIONAMENTOS”?
To: 'contato@caiofabio.com'
Sent: Thursday, September 29, 2005 4:26 PM
Subject: PERDIDO E SEM CAMINHO

Olá Caio,

Estou em processo de desconstrução. É muito dolorido. Não sei o que será de mim. Não acredito mais nas instituições. Mas, sem elas, parece que estou sem chão, não sabendo como caminhar. Tenho duas filhas, uma de 7 anos, e outra de 11 anos. O que será delas? o que vou passar para elas? Minha esposa é minha "ouvidoria". Escuta minhas frustrações. Tem medo que eu desande, fique indiferente a tudo e caia no mundão. Concorda comigo, mas argumenta que se formos para outra "igreja" será a mesma coisa.

Um caminho... é tudo que preciso.

Será possível seguir o caminho sem um caminho institucionalizado? Leio suas palavras sobre "igreja" x igreja e cada vez mais caminho para fora daquele caminho. Leio coisas sobre "O Caminho da graça" e percebo uma tentativa de ser igreja e não "igreja ". Mas fico pensando... começou como um caminho, algo sempre em movimento. Agora estamos na estação do caminho, não será paradoxal?

Explico, estação dá idéia de parada, algo que está sendo erguido, uma estrutura com todos os seus conflitos de poder, por mais simples que seja. Em tese pode-se até fazer diferença entre Estação x "igreja", mas na prática será que isso é possível?

No caminho não se projeta, não se constrói, não se ergue, apenas armamos e desarmamos tendas. No caminho nos misturamos, damos, recebemos e seguimos.
Será que é possível viver também assim?

Mas fico pensando, somos seres grupais. Cria-se grupo de tudo, dos sem-terra, dos divorciados, dos homo, dos hétero, dos solteirões, da meia-idade, dos "igreja", dos igreja, enfim, os semelhantes se atraem. Os discípulos do caminho vivem em grupos ou se misturam nos grupos? ou se excluem dos grupos e criam seus próprios grupos?
Será possível servir a Deus sem ir a "igreja"?
Um grande abraço.

Muito sucesso para você e que Deus realize os desejos do seu coração.
Jesaías

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Resposta:
Meu querido amigo e irmão: Graça e Paz!
Vejo que você está de fato em grande conflito, e que a desconstrução está sendo, na realidade, uma demolição ou implosão. Primeiro, saiba que não estamos criando uma denominação. Somos, em alguns poucos lugares, um ‘pouso’ para quem pede. E, quando digo “somos”, apenas digo que os que se designam “do Caminho”, são apenas discípulos de Jesus que não se encontram tranqüilos nas instituições as quais chamamos “igreja”.
Ora, esses apenas se encontram em torno da mesma percepção do Evangelho. Ou seja: são apenas dois, ou três, ou mais, reunidos em Seu nome.

Quanto a “Estações” do Caminho, também desejo que saiba que estação é uma paragem para os peregrinos.

O Caminho não é ‘na’ Estação, é na estrada, é no mundo, é na vida, é na pluralidade da existência, é em meio a tudo e todos, é nas portas do inferno. A “Estação” é um pouso rápido, é um pernoite; ou, no mundo moderno, nem mesmo isso; posto que “estar na estação”, num metrô, por exemplo, é coisa tão rápida que a pessoa quase nem chega a “estar”.

Não temos, todavia, a aflição das estações de metrô. Preferimos as Estações das estradas andantes, antigas ou primitivas, nas quais a Estação era apenas uma “ramagem” na beira da estrada, onde também se paria o pão, mesmo entre estranhos. Ou apenas um lugar comum onde os peregrinos, os hebreus do caminho, se encontram.

Quanto ao senso de “grupo”, no Caminho ele não existe como tentativa de separação do mundo. Existe apenas o senso de unidade na fé, em meio à pluralidade das muitas expressões humanas. Ou seja: o sal, para dar gosto e ser sentido, fazendo a diferença, tem que se ‘dissolver’ na terra, ou onde quer que seja posto. Portanto, o ensino do Evangelho é para que nos dissolvamos na sociedade humana, em toda ela, dando gosto de Graça a tudo.

Além disso, não tenho compromisso com nada além do dia chamado Hoje. A Igreja é de Deus. Deus é Deus. Ele cuida dela. Assim, sirvo a Deus Hoje, e não vivo a neurose de como será amanhã. Não sofro dessa ansiedade.

Hoje, todavia, há milhares de filhos de Deus que andam dispersos porque as portas da “igreja” lhes estão cerradas; ou porque mesmo que estejam escancaradas, estão, todavia, encarrancadas. Ou seja: não refletem a face de Cristo, em Graça e Misericórdia, mas sim a carranca dos fariseus e dos dráculas da religião sem Deus.
Quem está feliz onde está, deve ficar onde está.

Apenas proponho que os que parecem não caber em lugar nenhum, ou os que amam a Jesus, mas, justamente por isto, não suportam a “igreja” — conforme ela se tornou—, que não se sintam “desviados”, que não se tornem solitários, que não vivam como se Deus tivesse qualquer coisa a ver com essas confrarias de homens. E, sabendo disto, que se ajuntem, que se reúnam, que se encontrem, que fortaleçam-se na fé, mutuamente; e, sobretudo, que ensinem o Evangelho uns aos outros; e que saiam para a vida, para toda ela, por todo mundo, qualquer mundo, até os confins de qualquer fim de terra; e que indo, preguem, testemunhem com palavras e ações, e façam discípulos de Jesus; ensinando a eles que o lugar onde se serve a Deus é no mundo, e que o lugar chamado Igreja é qualquer lugar onde dois ou três se reúnam em Seu nome, até numa “Estação” do Caminho, ou qualquer estação, com ou sem nome, mas desde que seja um lugar de refrigério.

Quanto aos seus filhos, eles têm vocês. Ou você deseja transferir a responsabilidade de ensinar a Palavra aos seus filhos a uma escola dominical? No Caminho os pais ensinam os filhos e são os pastores dos próprios filhos. Embora, nas Estações, haja também ensinos e atividades para todas as faixas etárias; ou seja: para quem quiser.
Então, irmão, eu lhe digo: no Caminho, Estação é só um lugar de descanso e espera. É só pra tomar fôlego, para, então, se prosseguir na jornada. Mas há certas coisas que só são provadas se são provadas, e se, assim, se fazem provadas; ainda que para alguns pareçam improváveis.

É bom, todavia, que se saiba que o Evangelho é apenas para gente que crê no impossível.

Saiba só uma coisa mais: Eu já tomei atitudes deliberadas que puseram abaixo algo que muitos consideravam um império cristão importante para milhões; e isto porque eu senti que estava traindo o chamado de minha existência como homem. Assim, eu pergunto a você: Por que você acha que eu tenho dificuldade de acabar qualquer coisa que eu tenha ajudado a construir?

Não! Eu creio que tudo aquilo que vira um fim em si mesmo, precisa ser destruído. Sim, qualquer coisa; pois até a vida individual-consciente não se valida por si mesma, mas pela sua possibilidade de se relacionar com o próximo; servindo a Deus e ao próximo na vida.

Ou seja: no Caminho nada é erguido para ser um fim em si mesmo. Se assim for, bem-aventurado é todo aquele que o puser abaixo. Afinal, é assim, ou deveria ser assim, com todas as coisas debaixo do sol. Receba todo meu carinho!

Nele, em Quem andamos em cada dia Chamado Hoje; hoje!
Caio
September 29, 2005 4:26 PM
Brasília
DF

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A hora de pedir ajuda

Por Ariovaldo Jr.

Há uma onda de orientações afirmando que as pessoas que possuem problemas de compulsão (seja em que área for), devem procurar ajuda. Tudo fundamentado em estatísticas e versículos bíblicos enfatizando o quanto é importante que não sejamos dominados por coisa alguma. Porém, qual é a hora certa de pedir ajuda?

É como se houvesse uma linha imaginária separando os que precisam de auxílio daqueles que conseguirão resolver seus problemas por conta própria. E consideramos comos os mais fracos aqueles que estão além do limite controlável da compulsão. Porém, é difícil encontrar alguém que adquire por si só a capacidade de discernir que já está do outro lado. A maioria de nós prefere dizer que bebe socialmente, toma apenas uns remedinhos sem receita, fuma apenas um cigarrinho de vez em quando, admiramos a beleza da criação nas fotos pornográficas que pulam na nossa frente todos os dias… e que mal há nisso?

O mal está em nossas excessivas tentativas de obter controle sobre aquilo que é incontrolável. Nossa carne grita, nosso desejos se tornam indomáveis e, naturalmente, cedemos. Não importa se em pequenas ou grandes coisas. Todos cedemos às compulsões da carne em algum nível. Não há de fato nem um justo sequer. Mas… há uma esperança!

Ao invés de nos segregarmos em dois grupos (os santos e os pecadores), devemos renunciar completamente ao falso controle que temos sob nossa conduta. Quanto mais uma pessoa se aproxima de Jesus, naturalmente deveria caminhar para uma maior exposição. Por isso é absolutamente possível separar aqueles servem ao sistema religioso daqueles que de fato servem a Deus. Religiosos investem boa parte de seu tempo na criação de um perfil público conveniente às relações sociais e altamente hipócrita, visto que não representa quem a pessoa realmente é.

Renunciar é submeter-se. Não aos religiosos, não à ilusão da cobertura espiritual. Mas à amizade. Aos bons relacionamentos desinteressados. Aos amigos de jornada, que caminham rumo ao mesmo destino. Este é o papel da Igreja, inalienável, porém quase sempre negligenciado.

Faz parte da Igreja de Jesus aquele que entende que TODO MOMENTO é hora de pedir ajuda. Só passou pela porta estreita aquele que desistiu de encontrar virtudes em si próprio e, expondo a si mesmo, encontra forças para não desistir. Não importa se o problema é pequeno e aparentemente domável. Na renúncia da ilusão do controle, encontramos cura verdadeira para todas as coisas.

Uma pessoa que vence muitas vezes seguidas não pode ser chamada de “mais que vencedor”. Só podem ser chamados de MAIS aqueles que percebem que nossa vitória está além deste “jogo”. Por isso, o medo de parecer um derrotado não pode aterrorizar aqueles que querem realmente mudar sua vida.

Faça alguma coisa!
Exponha-se!

Peça ajuda para resolver aquele problema que você tem certeza que é capaz de resolver sozinho. Simplesmente por que “sozinho” é uma palavra que não faz parte do Reino de Deus.

“Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida?” (Mateus 16:26)

FONTE: www.ariovaldo.com.br

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

John Piper também erra



Por Ariovaldo Jr | February/2/2010

Para tentar minimizar o número de pessoas que irão me xingar, gostaria de começar este texto afirmando que também sou admirador das palavras do velho Piper. E também considero importante enfatizar que não estou tentando acrescentar detalhes em sua pregação às custas de me promover. Mas talvez uma das coisas mais difíceis de se encontrar na atualidade, são pessoas que pensem e que sejam críticas sem descartar outros por possuírem opiniões divergentes das suas próprias. Então, por favor, tenha paciência antes de xingar minha mãe.

Citei John Piper, mas poderia listar vários outros nomes que são altamente inspiradores em minha vida. E que, ao não concordar 100% com nenhum deles, me alegro por saber que se tratam de seres humanos, restritos como todos nós às opiniões e experiências da vida.

Piper afirma no vídeo “Não desperdice seu púlpito” que os modismos dos pregadores contemporâneos deve ser deixado de lado em favor da pregação do evangelho puro e simples. E obviamente concordo com sua afirmação. Porém, o próprio Piper se enquadra no grupo dos que o fazem? Por um acaso, as formas e liturgias da pregação da palavra na Igreja Batista Bethlehem são essencialmente o evangelho de Cristo?

Todas as igrejas, com raríssimas excessões, incorporam o modelo de escola grega, utilizando do púlpito, das cadeiras e dos mecanismos acústicos adequados a uma exposição unilateral. A grande pergunta então é: foi Jesus que estabeleceu este modelo?

Mark Driscoll, de certa forma do lado oposto ao de Piper, também é um dos homens que admiro e ao mesmo tempo não engulo completamente. Ele me parece um conservador ao estilo do Piper, travestido de pós-moderno, com intenções explícitas de atingir a juventude de seu país. Por exemplo, sua opinião sobre o livro “A Cabana”, soa como altamente radical e intolerante. Através de suas observações, temos a sensação de que há pouca aceitação àqueles que enxergam Deus ligeiramente diferente.

O que une a todos os pregadores do Reino é a essência da mensagem da salvação, única e explicitamente representada pela figura do Deus encarnado sob o nome de Cristo Jesus. Porém devemos compreender que, toda crítica aos modelos de exposição das verdades contidas na Bíblia, é quase sempre exagerada. Jesus falava sobre árvores, sementes… sobre plantas das mais diversas espécies… sobre filhos estúpidos, sobre tesouros e sobre a relação empregado/patrão. Em cada pequeno detalhe e, através das mais diferentes técnicas e momentos, Ele comunicava as verdades eternas.

Por isso, concentre-se na mensagem de Piper, na ousadia de Driscoll… mas principalmente no evangelho de Jesus. Conte histórias que tenham a ver com a sua realidade; e que mexam com a vida das pessoas segundo aquilo que Deus já está fazendo e, muitas vezes, elas sequer são capazes de perceber. Lembre-se que o “seu púlpito” não é um lugar, mas uma atitude.

E nunca se esqueça que, o próprio Jesus defendeu a legitimidade daquele que não era “do grupo” dos discípulos a promulgar o evangelho. Por quem não é contra nós, é por nós.

Amo estes caras… por que são pessoas comuns, como todos nós.
Amo o Piper, mesmo o considerando conservador demais.
Amo o Driscoll, mesmo crendo que ele precisava ser ousado não apenas na aparência.

Estamos todos no mesmo barco.

FONTE: www.ariovaldo.com.br