quinta-feira, 27 de maio de 2010

Música no Mundo = Música do Mundo?

Alegria sempre!

Há alguns dias atrás, estive participando de uma entrevista organizada via e-mail pelo amigo e jornalista João Neto – do portal Guia-me – e logo em seguida compartilhei com os confrades do Palavrantiga o resultado desse bate papo. Com muito entusiasmo eles me incentivaram a postar aqui, no nosso sítio, o conteúdo integral da conversa.

Na esperança de compartilhar boa nova, desejo uma boa leitura para todos.

Abraço demorado.

Marcos Almeida

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J.N. O que te vem à mente quando se fala em “música do mundo”? E “música secular”?

M.A. Antes de qualquer outra palavra, acredito que é bom contextualizar a pergunta. Pois não é comum no meio cristão evangélico raciocinar a respeito do seu próprio sistema de pensamento, ou seja, perguntar por que se usa certos jargões tais como “música do mundo” ainda é mexer em estruturas culturais, é mexer no costume de um povo que já se habituou a repetir sem analizar, adotar vocabulários sem questionar origem, em fim, como todo povo sobre a face da terra, os evangélicos têm nos seus usos e costumes um ‘baú de herança’ pelo qual todos os adeptos devem lutar afim de manter tal tradição, empacotada, intacta até a próxima geração.
Não existe nada de mal nisso.É apenas uma constatação daquilo que é natural em qualquer sociedade que não considera a reflexão como instrumento útil para o crescimento da consciência rumo a uma visão mais completa da realidade. Mesmo que isso queira dizer, em certo momento, perder certas crenças para ganhar outras mais amplas.

Dito essas duas coisas vamos então mexer nos símbolos dessa cultura com todo o respeito:

Se nessa situação a gente considerar o termo “mundo” igual a “sistema simbólico pagão” ou “sistema secular” e música como “som e silêncio organizados expressivamente para que alguém ouça”, dificilmente o sujeito que não seja pagão vai gostar de ouvir tal música secular! Alguns mais radicais não vão querer ouvir nem por curiosidade de descobrir o que passa na alma do outro que não é da sua tribo. Pois alguns evangélicos admitem ouvir música secular no próposito que é: entender o pagão. No intuíto que é: ouvir o não crente revelar aquilo que o faz crer. Outros ainda ouvem sem considerar o valor simbólico e pragmático da letra secular, ouvem pelo som. Estes já abstraíram qualquer discurso, preferem apenas o som ao sentido rígido das palavras: é a música pela música.

Desde aquele que diz não ouvir música secular, como também o que ouve afim de analisar psicologicamente o outro, até aquele que deseja apenas sentir o som, a verdade mais crua é que todos ouvem música do mundo! A diferença é que para alguns tal som é um ensurdecedor ruído e para outros é expressão de beleza. E olha, todos esses grupos de posições tão divergentes creem em Jesus Cristo como salvador.

Eu enquanto músico cristão, compositor e professor penso que a arte que eu faço é naturalmente NO mundo mas não é DO mundo. Isso quer dizer que não me insiro em nenhum desses grupos acima colocados, pois o paradgma acaba sendo outro – obviamente me pauto em João 17, na oração de Jesus. Uma arte no mundo é bem diferente de uma arte do mundo. Quando procuro um filme para assistir,ou uma literatura,como também uma música, sempre busco uma expressão sincera que seja no mundo. Pois uma expressão artística que negue estar no mundo desconsidera o lugar onde seus pés estão fincados. Quem deseja uma música que não seja NO mundo talvez não queira de fato continuar vivendo por esses lados aqui da Terra.

J.N. É possível ouvir músicas que não sejam especificamente denominadas como evangélicas (ou “gospel”) e ser edificado com isso?

M.A.
Perfeitamente!Claro que sim! Pois a música mundana pode inadvertidamente ser chamada de Gospel e aí não é um selo, ou uma marca cristã que preserva uma confissão sadia. Todos sabem disso! A Boa Nova não está restrita a uma cerca construída pelos parâmetros mercadológicos ou doutrinários, a Boa Nova ultrapassa fronteiras. A Boa Nova é um caminho e não um limite.

J.N. A música pode fazer bem ao ser humano, simplesmente pelo fato de ser música e ser feita com sentimento?


M.A. Se você folhear alguma revista de medicina dos últimos 30 anos vai poder encontrar algum artigo ressaltando o valor terapêutico da música. Muitos hospitais brasileiros já têm musicoterapia como um dos seus mais queridos serviços, principalmente na reabilitação de pessoas traumatizadas fisicamente.

J.N. Sabe-se que há grupos musicais que não se denominam “gospel”, mas em suas músicas falam sobre princípios cristãos como o amor, o respeito ao próximo, a peservação do meio ambiente, etc. Na sua opinião, essa também é uma forma de edificar aqueles que os ouvem?

M.A.
Penso que não exista uma canção que seja neutra, que não queira falar sem se mostrar. É impossível! Até aquele que compõe no propósito de deixar um discurso desconexo para o ouvinte, uma coisa nublada, muito descomprometida, já tem aí uma intensão, a intensão de não ser objetivo. Como diz uma escritora mineira: diante do ouvinte, todo artísta sincero acaba se confessando publicamente. Então, não é tão raro encontrarmos confissões de artístas não carimbados pelo selo Gospel que são verdadeiras declarações de amor pela Vida, à criação, ao próximo. Como disse anteriormente, a partir do momento que você começa a pensar esse assunto por outro paradgma que não seja o comercial ou religioso vai conseguir ouvir muita música No mundo que não é Do mundo, não é Gospel nem Carismática e mesmo assim confessa publicamente a Boa Nova para todos os homens! Pois verdadeiramente o Evangelho não é uma fronteira construída pelos costumes de um povo. O Evangelho é um Caminho, é uma direção, é um vento que atravessa os limites de uma cultura e pode sim inspirar muita música neste mundo grande e misterioso!

Marcos Oliveira de Almeida

12 de Novembro 2009

Belo Horizonte


FONTE: www.palavrantiga.com.br

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